sexta-feira, 23 de dezembro de 2016


O Cativeiro do Mau Amor

 

                            Roberto Adami Tranjan, no seu livro Não Durma no Ponto (o que você precisa saber para chegar lá), 3ª. Edição, São Paulo, Gente, 1999, capítulo 5, Nosso “Jeitão” de Ser, p. 53, cita, a propósito de nada, Niezschte: “Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro”, o que é uma coisa assim extraordinária, portentosa mesmo.  

                            Não é o isolamento que se transforma em cativeiro, até pelo contrário, o cativeiro traz lá sua dose de libertação. Por si só o isolamento não é bom nem ruim, porque se pensarmos a fundo veremos que estamos tanto unidos quanto desunidos, tanto juntos quanto separados.

                            É o “mau amor”, o amor ruim, o amor não-incondicional que traz a perdição. Ora, o chamado “amor incondicional” é uma daquelas virtudes de ELI, Natureza/Deus, Ela/Ele que os seres não podem ter sozinhos. É, mais que o amor segmentado, que pode ser transição, o amor segmentador, separador, antilibertário, que constrói maiores e menores, que cria patamares, alturas distintivas.             

                            Veja que Nietsche diz “vos faz”, como se fosse uma outra voz. “Vos faz do isolamento”, sendo isolamento = MORTE, na Rede Cognata. Morrer não é nada, é o tipo de morte que conta, se solitária, sozinha, só para si, ou compartilhada, para os outros. Se é morte só para si ou para outros, até para todos. Poderíamos traduzir na RC como “vos faz da MORTE uma QUEDA”, um corte, uma separação. É a escolha de morrer sozinho, viver para si. Essa separação definitiva, essa, sim, vem do mau amor, do amor condicionado, que impõe condições para ser ou não ser, que escolhe, vem do amor separador, do amor isolante, personalista = SOLITÁRIO = SEPARADO.     Por exemplo, uma nação que não saiba se soltar, que não saiba dar padece do mau amor nacional. Ou um estado, ou município/cidade, ou empresa, ou grupo, ou família, ou indivíduo. Tal nação morrerá mesmo a morte definitiva, a separação = PRISÃO.

                            O cativeiro não é para sempre, não é para a eternidade – é somente um teste para a libertação. Mas o mau amor, não permitindo que o conjunto saia de si, este sim é definitivo. E é para isso que nos tentam o tempo todo, a ver se sucumbimos. Somente o bom amor, o amar incondicionalmente, nos libertará da prisão, da solidão.

                            Vitória, domingo, 11 de agosto de 2002.

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