NASDAQ – 75 %
Numa
semana três empresas aéreas americanas pediram concordata, sem falar em todas
as falências, por exemplo, a da Enron, que foi a mais rumorosa. Nada disso
importa, mas dá ensejo de investigar outra questão, que é pertinente.
A
chamada “nova economia”, a economia em volta dos eletrônicos, por contraste com
a “velha economia”, aquela de carros, aço, petróleo, etc., insere-se no âmbito
do ou da NASDAQ, a bolsa separada da ou do NYSE, que trata da outra banda.
Pois
bem, li em algum lugar que essa NASDAQ caiu de chofre 75 %, quer dizer, as suas
ações perderam em média 75 % do valor. Claro, enquanto a Economia planetária
estiver subindo um tiquinho que seja sobre os níveis precedentes de produção, o
que aconteceu foi que os valores meramente trocaram de endereço. Não se
depreciaram, apenas alguém pagou e alguém foi pago. Sob essa ótica as nações e
suas extrações monetárias para a sustentação do Estado geral não deveriam se
preocupar, tudo vai como antes no quartel de Abrantes. Umas empresas sobem,
outras decaem, umas abrem e outras fecham, nada a comentar.
Algum
esperto se apoderou do dinheiro de algum trouxa. Só que aqui foi algo
assombroso, 75 %, uma queda abismal. Os númerozinhos foram da conta de A para a
conta de B, A designando milhões, de um lado, e B alguns, de outro. Os gerentes
e executivos da Enron se apoderaram das poupanças das velhinhas aplicadoras, que
por sua vez fazem parte da Manada Eletrônica a predar o mundo inteiro
impiedosamente, de forma que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”,
deveríamos até bater palmas.
Contudo,
a podridão que está sendo anunciada seqüencialmente por todas as falências e
concordatas, todos os mascaramentos, todos os rolos oficiais e oficiosos, tudo
que veio a público e tudo que ainda está escondido, mostra a bandidagem de que
alguns falavam, mas poucos tinham coragem de olhar de frente. Não apenas os EUA
como Japão e Europa, tantos lugares estão vivendo com parte do corpo escondido,
“na moita”, como diz o povo, o que é a mais explícita desconfiança.
O
que mais essa desconfiança trará?
A
desconfiança é outro nome da inflação, que á a exposição como febre da doença
mais profunda. A inflação é o sintoma, a desconfiança é a causa interior.
Quando cessa a confiança todos querem a farinha primeiro, para salvar como
pirão o que de outro modo seria a sopa rala e pouco sustentadora. Do ditado:
“farinha pouca, meu pirão primeiro”. Ou seja, na pobreza não há sobriedade,
educação, consideração para com o próximo; não há verniz civilizatório – passa
a valer a falta de regras das guerras.
O
primeiro sinal de que uma era assim está nascendo vem a ser justamente essa
comilança pelas elites, às escondidas, essa roubalheira pelos ricos, como a que
há no Brasil, na América Latina toda, em tantos países do mundo, e de que os
países centrais estavam livres (é justamente porque estavam livres que se
tornaram primeiro e segundo mundos) até agora. Esses acontecimentos nos EUA são
a demonstração cabal de que o mundo está mergulhando numa era de selvageria, de
que é preciso sacá-lo. Vi de antemão que os EUA iriam mergulhar nisso, que
seria preciso ajudá-lo, apesar de tudo que fizeram de ruim – pois fizeram mais
coisas boas.
Com
o fim dessa tintura civilizatória nos apertos, endurecem todos os atores do
cenário, vindo os falcões militares à tona, trazendo com eles as ditaduras de
direita, os fascismos de direita, o fim da liberdade.
E
é isso justamente que temo: que o mundo esteja mergulhando numa era fascista,
só que agora conduzida pelos países antes democráticos (e, de lambuja, os mais
poderosos que há). Quem nos salvará nesta quadra?
Vitória,
domingo, 18 de agosto de 2002.
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