quinta-feira, 22 de dezembro de 2016


Improváveis Invenções

 

                            Quando a gente pensa em como é improvável uma invenção, é assustador. Einstein disse que o mais interessante não é entender o universo, é pensar que o universo seja inteligível. Ou algo assim.

Como é que se dá esse entendimento? A pessoa deve estar ENCOSTADINHA, bem junto mesmo, para, modificando ligeiramente o que já existe, chegar à coisa nova. Entretanto, há pessoas que dão saltos gigantescos, bem grandes mesmo, saltos no escuro.

                            Por exemplo, o Wagner Luís Fafá Borges é despachante de patentes e tem me ajudado a registrar as minhas. Mostrou-me algo de curiosíssimo. Normalmente os plantadores usam sacolinhas de plástico (até sacolas de leite) nos hortos privados ou públicos, para colocar terra e as sementes que germinarão, até ficarem as mudas com algo em torno de um palmo de altura (ou o que for), quando são transplantadas. Os objetivos disso são vários: 1) tornar a plantinha mais resistente, 2) evitar que haja buracos onde não nascessem as sementes, apresentando falhas nas plantações seriadas, 3) administrar adubo e rega a milhares de mudas em breve tempo e curto espaço, e outros. Acontece que a sacolinha de plástico é resistente, a pequena planta não consegue vencê-la com suas raízes a ponto de colocá-las para fora, mesmo se o plástico vem furado. Devido a isso as pessoas devem usar uma tesoura para arrancar o conjunto da sacola. Pode cair terra, as mudas podem ser danificadas, as raízes podem sofrer choque, etc.

                            Pois bem, o camarada inventou com os fios que sobram da serragem de madeira, aqueles fiapos enovelados, um cone de fios de madeira, que degradam em contato com a água e o solo, não sendo necessário cortar nada, depositando-se diretamente no lugar próprio. As raízes, dinâmicas, passam facilmente pelos fios, que no entanto contém a terra, estática.

                            Que é que liga os fios de madeira à planta?

                            O cilindro de plástico não é nada parecido com o cone de fios. Quem poderia pensar que os fios ficariam no lugar sem se deslocar, entornando o caldo, por assim dizer?

                            Enfim, quando a gente vê o que existia antes e os saltos que as pessoas deram para produzir o novo só podemos ficar mesmo maravilhados, bestificados com essa capacidade da inteligência. E mais ainda nas intrincadas questões da tecnociência.

                            No meu modo de entender é totalmente formidável.

                            Porisso mesmo não me canso nunca de olhar as invenções, sempre com espanto renovado, legítimo deleite. Como disse alguém, as invenções redesenham a humanidade, toda a sua psique. E são milhões delas em interação agora, possivelmente desse encontro fértil gerando mais milhões delas, o que é autêntico milagre.

                            Vitória, segunda-feira, 5 de agosto de 2002.

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