domingo, 25 de dezembro de 2016


Concorrência

 

                          No livro Petróleo, A Maior Indústria do Mundo? (Sua história empresarial, nomes que fizeram a diferença, bastidores da política), Rio de Janeiro, Thex, 2002, p. 412, o autor, Roberto Minadeo, diz: “Um setor da atividade econômica com milhares de pequenos produtores não é necessariamente um setor com maior concorrência. Um exemplo prosaico: apesar de existirem milhares de padarias, o pão é quase sempre adquirido no local mais perto das residências. Dificilmente alguém se disporia a grandes percursos em busca do melhor produto ou do menor preço. É um setor com menor concorrência por sua própria natureza, havendo natural acomodação em torno de cada unidade. As que são mal administradas não sobrevivem, vindo a ser fechadas ou negociadas. Portanto, não é o fato de não existirem milhares de grandes companhias de petróleo que indicaria necessariamente a existência de um cartel”.

                            Nem o contrário, pois acontece que há de fato cartelização no subsetor de energia do petróleo e do gás.

                            E isso advém de que, havendo pequeno número de empresas, é mais fácil negociar entre elas um acordo em seu próprio benefício, para prejuízo dos excluídos, seja o povo, sejam as elites. E, ao contrário, havendo milhares de padarias, elas não podem conversar entre si para estabelecer monopólio (um pólo só) ou oligopólio (poucos pólos). Entrementes, os governos acabam por estabelecer preço único, com o tabelamento de preços, e com isso o monopólio, o pólo único do governo. Agora que os preços foram liberados, há lugares que vendem o pão a 25 centavos, outros a 20, outros (das regiões miseráveis) a preços menores ainda.

                            Ora, a concorrência não é apenas sadia, é ela condição mesmo de prosperidade e da projeção no futuro do mais apto, do mais hábil, do que conhece mais. Aliás, a concorrência é fator da sobrevivência do mais competente, do mais capaz, do mais habilitado, do mais adequado, do mais destro, do mais apropriado.

                            É POR ISSO que os governos (e as empresas também) devem zelar pela concorrência, pois a solução de problemas é condição de sobrevivência das espécies. Na realidade as espécies estão SEMPRE concorrendo para deixar descendência. As pessoas podem pensar que ajudar os deficientes físicos e mentais é programar a ineficiência para estourar pelo acúmulo em algum ponto do futuro, mas estão redondamente enganadas, desde quando os laços de proximidade é que fazem a humanidade ir adiante. A consideração, o respeito, a dignidade do comportamento não tem nada a ver com o fim da concorrência, podendo perfeitamente estar associadas a ela.

                            A concorrência tanto pode ser boa como ruim, aliás, como todas as coisas. A concorrência ruim é a concorrência des-leal, aquela a que falta lealdade, constância, fidelidade, honra, respeito a princípios. Trapacear é que é ruim.

                            Se segue que o oligopólio, o duopólio, o monopólio, todas as restrições da concorrência são ruins. O oposto também é verdadeiro: concorrência demais é daninha, porque pulveriza excessivamente a potencialidade dos fabricantes.

                            O autor não está certo na defesa implícita que faz das grandes companhias do petróleo, em especial das chamadas Sete Irmãs (que já perderam dois membros, naturalmente substituídos por outros – nem são necessariamente sete agora). Mais certo é que os povelites estejam sendo traídos por esses oligopólios.

                            Vitória, segunda-feira, 26 de agosto de 2002.

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