sexta-feira, 23 de dezembro de 2016


A Guerra é Boa?

 

                            É claro que a guerra é ruim, enquanto destruição, e eu tenho pavor dela, por tudo de mau que traz. Contudo, aprendi no modelo a ver as coisas todas como soma zero, ∑ = 0 = P – G (paz = guerra, devem ter o mesmo “tempo”; uma é longa e quieta, outra é intensa e curta), o par polar oposto/complementar. E guerra = CRIADORA = GERADORA, na Rede Cognata, de modo que é preciso analisar melhor a questão.   

                            No que a guerra é ruim nem precisamos falar, vemos seus efeitos terríveis. É no que ela é boa que devemos tocar.

                            Bom, para começar, a guerra ROMPE OS LAÇOS. Em torno de cada conjunto (laços pessoais: laços individuais, laços familiares, laços grupais, laços empresariais; laços ambientais: laços municipais/urbanos, laços estaduais, laços nacionais e laços mundiais) vão se formando centenas e até milhares de ligações emperrantes, enrijecedoras – toda uma HIERARQUIA DE PROCEDIMENTOS, DE FAZERES, DE SABERES, DE PRECEDÊNCIAS, os tais que podem mais. Quando a guerra vem ela talha, corta, desfaz, arrebenta, rompe todos esses nós, abrindo os conjuntos para outras ligações e potencializações. Impedido que estava de ligar-se com outros conjuntos mais distantes, agora pode fazê-lo, surgindo, disso, muitas novidades. Os conjuntos não precisam mais pedir licença a seus próximos para ligar-se aos distantes. As idéias lá de longe, que não chegavam aqui, passam a fazê-lo. Ambos os lados tomam contato com os valores alheios e aprendem a valorizá-los.

                            Depois, confrontadas com a possibilidade de sua morte ou submissão ao estrangeiro, as burguesias ABREM AS PERNAS, deixam passar coisas que não seriam admitidas em outras ocasiões, como na Primeira e Segunda guerras mundiais, na guerra fria dos EUA com a URSS, etc. Só isso já renderia muitas teses de mestrado e doutorado. Muitas leis facilitadoras são passadas para favorecer o povo e as massas.

                            A seguir, vem o processo democratizante: quem lutou na guerra não deseja mais os torniquetes ameaçadores de antes – quer a todo custo liberdade equivalente ao seu esforço e morte.

                            Mais ainda, antes os homens, e agora homens e mulheres voltam cheios de vigor procriativo, o que em resumo quer dizer terrenos, casas, móveis, carros, acumulação.

                            Não posso estender indefinidamente esta avaliação, porque o tempo é pequeno e há outros textos a construir, mas você consegue visualizar por si mesmo. É claro que a guerra é tristíssima, mas depois dela vem um período felicíssimo de bonança. Uma calmaria quente e reconfortante, depois da procela.

                            É como morar perto de um vulcão – é que as terras ali por perto são mais férteis, a humanidade não iria se arriscar atoa.

                            Creio, portanto, que as guerras são um mecanismo para a sobrevivência do mais apto, quando estamos caindo na inércia e no comodismo das relações antigas superenrijecidas, na imobilidade total.

                            Matando essas antigas relações, limpando o campo das ervas daninhas da repetição, a guerra revolve e oxigena a Psicologia humana geral. Pode-se dizer que, embora detestável, é um mal necessário, um mecanismo de sobrevivência.

                            Vitória, terça-feira, 20 de agosto de 2002.

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