O Apavorante Círculo
do Terreirão e a Volta dos Guerreiros
Quanto mais penso no
MCES Modelo da Caverna para a Expansão
dos Sapiens mais fico admirado da força e resistência de homens e mulheres,
nossos espantosos antepassados que primeiro como neandertais (podemos não ser
descendentes biológicos, mas herdamos seus jeitos e construções) e depois como
cro-magnons.
Os 10 a 20 % de
homens iam caçar-pescar “com a cara e a coragem”, enfrentando destemidamente o
ambiente super-hostil que nunca mais conheceremos, porque os de antes o
subjugaram antes que surgíssemos. Andar dezenas de quilômetros para pegar a
presa ou ser pego pelo predador, isso era coragem! Preparar a expedição, juntar
os elementos, conversar com os companheiros, andar, preparar armadilhas,
tocaiar, lutar.
E as mulheres, com 90
a 80 % que ficavam e precisavam de atenção: mulheres conversar com mulheres
sobre tudo, inclusive “coisas de mulheres”, quais eram homens prometedores ou
profícuos, preparar o futuro, colher e armazenar, tudo aquilo das cinco
memórias. Cuidar das crianças em penca, amamentar, evitar que fossem roubadas
pelas inférteis, conter as menininhas, estimular os garotinhos xodós, inventar
as coisas úteis (panelas, roupas), cuidar dos BIF (bioinstrumentos femininos),
inventariar, controlar as avós faladoras e reclamonas, os avôs ranzinzas de
glória passada e os guerreiros irritantes em recuperação, tudo isso que elas
fazem até hoje.
Aquela era a gente
maior.
A começar pelo
apavorante Terreirão geral: TODO DIA ir colher, observar passarinhos para ver
quais frutas eram comestíveis, lembrar as datas e as posições das árvores, as
quantidades necessárias a cada um, quanto cada produto durava – e tudo isso em
círculo, ciclo eterno, sem modificação vida após vida, de bisavó a avó a filha
a neta a bisneta, na curta vida de 26 anos.
E esperar a volta do
guerreiro.
DORIVAL CONTA
Suite Dos Pescadores
Minha jangada vai sair pro mar, Vou trabalhar, meu bem querer, Se Deus quiser quando eu voltar, Do mar, | 3 x (sendo a ultima só com o Dorival Caymmi. um peixe bom, eu vou trazer... Meus companheirs também vão voltar, E a Deus do céu vamos agradecer ! Adeus, Adeus... Pescador não esqueças de mim! Vou rezar pra ter bom tempo, Meu nego, 2 x Pra não ter tempo ruim... Vou fazer sua caminha macia... Perfumada de alecrim... Pedro! Pedro! Pedro! Chico! Chico! Chico! Nino! Nino! Nino! Zeca! Zeca! Zeca! Cade voces, homens de Deus? Eu bem que disse a José! Não vá José ! não vá José! Meu Deus! Com tempo desses não se sai! Quem vai pro mar, quem vai pro mar, 2 x Não vém! Pedro! Pedro! Pedro... Chico! Chico! Chico... Nino! Nino! Nino... Zeca! Zeca! Zeca... É tão triste ver... Partir alguem... Que a gente quer... Com tanto amor... E suportar... A agonia... De esperar voltar... Viver olhando o céu e o mar... A incerteza a torturar... a gente fica só... Tão sóa gente fica só... Tão só... É triste esperar... Uma incelênça... Entrou no paraiso... 2x Adeus! irmão Adeus! Até o dia de Juizo! Adeus! irmão Adeus! Até o dia de Juizo... Minha jangada vai sair pro mar, Vou trabalhar, meu bem querer, Se Deus quiser quando eu voltar, Do mar, | 4 x (sendo a 3ª só com o Dorival Caymmi. Um peixe bom, eu vou trazer... Meus companheirs também vão voltar E a Deus do céu vamos agradecer ! |
Nem a angústia da espera, nem a festança do
retorno dos guerreiros foi algum dia contemplado pela filmografia redundante
mundial: coisas tão interessantes deixadas de lado!
Aquilo foi grandeza, quando as pessoas se
estimavam verdadeiramente, pois eram tão pouquinhos!
Porque, veja, era apavorante para as mulheres
(isso também foi grandeza) ficar repetindo diariamente os gestos obrigatórios
de salvação, o que foi congelado em seu ADRN como torturante ciclo
Casa-Terreirão geral. Os homens postos diante do perigo pelo menos tinham a
diversidade, as mulheres não (não admira mesmo nada que sejam loucas para sair
– casamento que não leva as mulheres a passear não prospera, disse a meu filho).
Elas estão condicionadas à repetição que os
homens, se fossem obrigados ficariam aborrecidíssimos, se aguentassem; não que
“tirassem de letra”, mas sentiam menos – e ficavam no aguardo, tolerando todos
aqueles filhos infernais e tantos empenhos.
Serra, domingo, 18 de outubro de 2015.
GAVA.
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