quinta-feira, 24 de novembro de 2016


O Apavorante Círculo do Terreirão e a Volta dos Guerreiros

 

Quanto mais penso no MCES Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens mais fico admirado da força e resistência de homens e mulheres, nossos espantosos antepassados que primeiro como neandertais (podemos não ser descendentes biológicos, mas herdamos seus jeitos e construções) e depois como cro-magnons.

Os 10 a 20 % de homens iam caçar-pescar “com a cara e a coragem”, enfrentando destemidamente o ambiente super-hostil que nunca mais conheceremos, porque os de antes o subjugaram antes que surgíssemos. Andar dezenas de quilômetros para pegar a presa ou ser pego pelo predador, isso era coragem! Preparar a expedição, juntar os elementos, conversar com os companheiros, andar, preparar armadilhas, tocaiar, lutar.

E as mulheres, com 90 a 80 % que ficavam e precisavam de atenção: mulheres conversar com mulheres sobre tudo, inclusive “coisas de mulheres”, quais eram homens prometedores ou profícuos, preparar o futuro, colher e armazenar, tudo aquilo das cinco memórias. Cuidar das crianças em penca, amamentar, evitar que fossem roubadas pelas inférteis, conter as menininhas, estimular os garotinhos xodós, inventar as coisas úteis (panelas, roupas), cuidar dos BIF (bioinstrumentos femininos), inventariar, controlar as avós faladoras e reclamonas, os avôs ranzinzas de glória passada e os guerreiros irritantes em recuperação, tudo isso que elas fazem até hoje.

Aquela era a gente maior.

A começar pelo apavorante Terreirão geral: TODO DIA ir colher, observar passarinhos para ver quais frutas eram comestíveis, lembrar as datas e as posições das árvores, as quantidades necessárias a cada um, quanto cada produto durava – e tudo isso em círculo, ciclo eterno, sem modificação vida após vida, de bisavó a avó a filha a neta a bisneta, na curta vida de 26 anos.

E esperar a volta do guerreiro.

DORIVAL CONTA

Suite Dos Pescadores

Minha jangada vai sair pro mar,
Vou trabalhar, meu bem querer,
Se Deus quiser quando eu voltar,
Do mar, | 3 x (sendo a ultima só com o Dorival Caymmi.
um peixe bom, eu vou trazer...
Meus companheirs também vão voltar,
E a Deus do céu vamos agradecer !

Adeus, Adeus...
Pescador não esqueças de mim!
Vou rezar pra ter bom tempo,
Meu nego,  2 x
Pra não ter tempo ruim...
Vou fazer sua caminha macia...
Perfumada de alecrim...

Pedro! Pedro! Pedro!
Chico! Chico! Chico!
Nino! Nino! Nino!
Zeca! Zeca! Zeca!
Cade voces, homens de Deus?

Eu bem que disse a José!
Não vá José ! não vá José!
Meu Deus!

Com tempo desses não se sai!
Quem vai pro mar, quem vai pro mar,  2 x
Não vém!

Pedro! Pedro! Pedro...
Chico! Chico! Chico...
Nino! Nino! Nino...
Zeca! Zeca! Zeca...

É tão triste ver...
Partir alguem...
Que a gente quer...
Com tanto amor...
E suportar...
A agonia...
De esperar voltar...

Viver olhando o céu e o mar...
A incerteza a torturar... a gente fica só...
Tão sóa gente fica só...
Tão só...
É triste esperar...

Uma incelênça...
Entrou no paraiso...  2x

Adeus! irmão Adeus!
Até o dia de Juizo!

Adeus! irmão Adeus!
Até o dia de Juizo...

Minha jangada vai sair pro mar,
Vou trabalhar, meu bem querer,
Se Deus quiser quando eu voltar,
Do mar, | 4 x (sendo a 3ª só com o Dorival Caymmi.
Um peixe bom, eu vou trazer...
Meus companheirs também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer !

Nem a angústia da espera, nem a festança do retorno dos guerreiros foi algum dia contemplado pela filmografia redundante mundial: coisas tão interessantes deixadas de lado!

Aquilo foi grandeza, quando as pessoas se estimavam verdadeiramente, pois eram tão pouquinhos!

Porque, veja, era apavorante para as mulheres (isso também foi grandeza) ficar repetindo diariamente os gestos obrigatórios de salvação, o que foi congelado em seu ADRN como torturante ciclo Casa-Terreirão geral. Os homens postos diante do perigo pelo menos tinham a diversidade, as mulheres não (não admira mesmo nada que sejam loucas para sair – casamento que não leva as mulheres a passear não prospera, disse a meu filho).

Elas estão condicionadas à repetição que os homens, se fossem obrigados ficariam aborrecidíssimos, se aguentassem; não que “tirassem de letra”, mas sentiam menos – e ficavam no aguardo, tolerando todos aqueles filhos infernais e tantos empenhos.

Serra, domingo, 18 de outubro de 2015.

GAVA.

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