Personagens Non
Gratas II
Depois daquela reunião fracassada no centro
de Vitória as personagens decidiram tentar de novo e marcaram assembléia no
Colégio do Carmo, ali no alto do morro na Praia do Canto, pelo lado da Ponte de
Camburi, perto do Posto Iate e do Iate Clube.
O fato é que o status quo ante, a situação
atual não agradava a todos. Evidentemente, as personagens mais destacadas,
famosas, evidenciadas, as que marcavam a geo-história estavam satisfeitas, porém
os que não faziam sucessos, os secundários queriam pular à frente, se mostrar,
ser apreciados.
A pergunta que não queria calar era esta:
- Por quê os autores não nos deram mais
destaque?
A resposta dos autores, de que nem todos
podiam ser primeiros-personagens, de que como no cinema devia haver personagens
coadjuvantes e até pontas, personagens que apareciam numa página só ou até meia
página ou eram citadas e nem se falava mais nelas, também tinha seu papel
constitutivo na trama, devo dizer que essa resposta não agradava, parecia
acomodatícia, tendente a diminuir o clamor, que todavia só aumentava.
Como sempre, os líderes, aqueles que se
achavam injustiçados e queriam pegar a posição de outros para viver acomodados
para sempre, açulavam os humores dos fracos e comprimidos, fazendo-se falsos
defensores deles, quer dizer, empurravam-nos ao serviço de boca de canhão, que
o papel da bucha era ser estraçalhada no processo democrático em nome dos mais
fracos de agora, fortes do futuro.
AS
PERSONAGENS SE DIVERTEM
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A plenária se dividiu em campos opostos e
antagônicos, fortemente dispostos a lutar, porque as personagens projetadas não
queriam perder a boquinha, sair de sua área de conforto.
- Oportunistas, falsos democratas!
- Adesistas, durex, puxa-sacos, bandoleiros
reaças.
- Cotistas, esmoleres, políticos.
- Aproveitadores, amigos de autores, “das
luzes” (no sentido de viverem sob os holofotes, acho).
E ficaram se xingando de nomes cada vez mais
feios e de baixo calão logo ali na subidinha para o Colégio, travaram luta lá
mesmo, nem chegaram em cima. As irmãs do Sacre Cour chamaram a polícia,
fecharam a porteira e não deixaram ninguém entrar.
Pensa que deu jeito?
A POLÍCIA CHEGA
BATENDO
(os fotógrafos pegaram em cheio e no dia seguinte as manchetes estampavam:
“violência policial agride personagens e acaba com a liberdade de linchamento”)
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Antigamente era assim.
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Personagens correndo e a polícia indo atrás
procurando ajudar.
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Personagem corajoso enfrentando a tropa. No quartel
passam sempre esse filme.
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Opositor desconsolado atacando os vermelhos, e os
pretos.
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Os autores, que estavam ali para defender
seus pontos de vista, nem porisso deixaram de apanhar também.
As personagens, tanto aquelas a favor quanto
aquelas contra eles, nesse momento se juntaram, porque os autores eram a fonte
primária de todas elas, e se engalfinharam com os policiais, que chamaram os
brucutus com os jatos d’água, o que não se via desde os dias da ditadura, desde
os idos de 1984, eles já estavam enferrujando, ainda bem que tiveram uma chance
de azeitar.
Jogaram água com força.
E bota força nisso.
Bem uns 30 personagens ou mais deslizaram
pelo morro do lado do canal e ameaçavam ir pro oceano, não fosse os barqueiros
serem ligeiros.
Um monte de personagens e de policiais, estes
descendo o cacete, rolaram pelo calçamento morro abaixo, as TVs filmando tudo,
foi um vexame. Bem uns três ou quatro anos o sindicato não vai conseguir emplacar,
se constituir. Só bem mais na frente, ou então fora do ES.
Parece que estão querendo fazer no Hyde Park,
em Londres, Inglaterra, ou no Central Park em Nova Iorque, EUA, em países onde
a lei é respeitada e as pessoas conseguem conversar civilizadamente, como se vê
nos tiroteios nos filmes.
Serra, quarta-feira, 17 de outubro de 2012.
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