A Existência dos
Celestiais
Cheguei à conclusão de que os celestiais
existem, e isso por uma via inteiramente indireta. Foi por acaso e pensando por
longos anos.
Meu nome familiar é Gava, duas vezes a mesma
vogal, A, e duas consoantes, G e V. Quando vim de Linhares passei a me
apresentar assim, porque nos livros de faroeste comprados por meu irmão eu via
os americanos se apresentando pelo nome familiar, não o pessoal.
Gostei daquilo.
Nas décadas seguintes passei a me apresentar
assim.
Pois as pessoas ao telefone diziam Cava,
Gova, Goya, Gaia, Jarbas (o motorista do Tio Patinhas), Gaba (a fruta), Gama,
Garfo (o marido da colher), Carlos (um primo, José Carlos Gava) e assim por
diante. De fato, era nome difícil de falar, G. A. V. A. Por mais que eu
repetisse lenta e pausadamente, as pessoas erravam.
Raciocinei que os celestiais se apoderavam
das mentes, ficavam brincando comigo e do outro lado rindo a não mais poder. Eu
os via gargalhando, rolando de rir no chão, tendo convulsões.
Uma vez no Tribunal do Júri disseram Miguel,
muito criativo.
Já que era tão difícil falar Gava, mudei.
Passei a dizer José Augusto e, bem baixinho,
de modo a do outro lado não poderem ouvir, Gava, de forma que a pessoa tivesse
de falar os prenomes pessoais bastante comuns no Brasil, José por vir de São
José, pai adotivo de Jesus, e Augusto, o imperator (que as pessoas confundem
com os sucessivos imperadores) romano.
Pois esses dias, falei José Augusto e ao fim
o rapaz disse, “tá bem, José Luís Augusto”. Nunca ouvi falar de sequer um José
Luís Augusto.
São os celestiais.
Com isso tive confirmação.
Sem dúvida nenhuma eles existem e controlam
as mentes.
E lá de onde estão ficam rindo da gente.
Serra, quarta-feira, 08 de agosto de 2012.
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