sábado, 24 de setembro de 2016


A Existência dos Celestiais

 

Cheguei à conclusão de que os celestiais existem, e isso por uma via inteiramente indireta. Foi por acaso e pensando por longos anos.

Meu nome familiar é Gava, duas vezes a mesma vogal, A, e duas consoantes, G e V. Quando vim de Linhares passei a me apresentar assim, porque nos livros de faroeste comprados por meu irmão eu via os americanos se apresentando pelo nome familiar, não o pessoal.

Gostei daquilo.

Nas décadas seguintes passei a me apresentar assim.

Pois as pessoas ao telefone diziam Cava, Gova, Goya, Gaia, Jarbas (o motorista do Tio Patinhas), Gaba (a fruta), Gama, Garfo (o marido da colher), Carlos (um primo, José Carlos Gava) e assim por diante. De fato, era nome difícil de falar, G. A. V. A. Por mais que eu repetisse lenta e pausadamente, as pessoas erravam.

Raciocinei que os celestiais se apoderavam das mentes, ficavam brincando comigo e do outro lado rindo a não mais poder. Eu os via gargalhando, rolando de rir no chão, tendo convulsões.

Uma vez no Tribunal do Júri disseram Miguel, muito criativo.

Já que era tão difícil falar Gava, mudei.

Passei a dizer José Augusto e, bem baixinho, de modo a do outro lado não poderem ouvir, Gava, de forma que a pessoa tivesse de falar os prenomes pessoais bastante comuns no Brasil, José por vir de São José, pai adotivo de Jesus, e Augusto, o imperator (que as pessoas confundem com os sucessivos imperadores) romano.

Pois esses dias, falei José Augusto e ao fim o rapaz disse, “tá bem, José Luís Augusto”. Nunca ouvi falar de sequer um José Luís Augusto.

São os celestiais.

Com isso tive confirmação.

Sem dúvida nenhuma eles existem e controlam as mentes.

E lá de onde estão ficam rindo da gente.

Serra, quarta-feira, 08 de agosto de 2012.

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