Na Interface Entre
Semi-Novo e Semi-Velho
Os vendedores de
veículos usados usam vários artifícios para empurrar os carros aos potenciais
compradores desde falar, como num filme, de segundo proprietário até dizer
“semi-novo”, de que a contraparte seria “semi-velho”. Para haver semi-novo tem
de haver semi-velho. As duas palavras seriam distintas e para serem distintas
deveriam ter entre si uma interface, que não há. Semi-novo é o mesmo
semi-velho, portanto dizer semi-novo é impróprio.
O que é algo meio-novo?
Ou é novo ou não é.
Novo é o que está saindo da fabricação, velho é tudo que está quase no fim.
Quase-novo talvez fosse apropriado, porque refere que está bem perto de ser
novo, foi inaugurado há pouco tempo. Ninguém diz que um homem maduro é semi-novo
ou semi-velho. É maduro.
Novo é o que não foi
usado.
Semi-novo seria o
quê?
Aparelho novo de
telefone todo mundo sabe o que é, é o que não saiu da caixa, não foi usado.
Quase novo seria um de pouco uso. Semi-novo seria o quê? Até para vender é preciso
um pouco de correção, é preciso honestidade de propósitos, representada pela
língua. Está certo que o capitalismo é uma pirataria só, mas até nele deve-se
ter alguma decência. Deveriam estabelecer parâmetros: novo, quase novo, usado,
muito usado e assim por diante.
De fato, seria
interessante escrever um livro contando desses artifícios linguísticos dos
vendedores capitalistas.
Vitória, sábado, 09
de abril de 2005.




