O Programa Canadense de Formação do
Brasil
O Almanaque Abril 2002 Brasil dá conta,
página 179 e ss., que em 1999 11,3 % dos brasileiros entre 18 e 24 anos estavam
na universidade, contra 42 % dos argentinos em situação equivalente. Naquele
ano freqüentavam o ensino superior no Brasil 2,4 milhões de indivíduos. Com o
ritmo de crescimento do número de vagas o país esperava até 2010 colocar nas
universidades e escolas isoladas 30 % da população naquela faixa: 12 % a menos
que a Argentina, 21 anos depois.
É um desastre total.
Como a população
estava crescendo a 1,6 % ao ano e era de 169,6 milhões em 2000 (segundo Gabriel
já passa de 180 milhões em 2004), atingiria 198,8 milhões em 2010. Já que os
2,4 milhões de matriculados eram (de 166,9 milhões estimados para 1999) 1,44 %
do total, a faixa dos 18 aos 24 teria [(100,0/11,3) x 1,44 =] 12,74 % do total.
Tomando, para facilitar, 200 milhões em 2010, disso 12,5 % serão 25 milhões,
dos quais, como visto, o governo executivo esperava ver nas universidades 30 %,
ou seja, 7,5 milhões, aumentando em 5,1 milhões o número de vagas, crescimento
ao ano de mais de 500 mil vagas. Foi dito no AA/2002-Brasil que o número de vagas aumentou mais de 40 % (43,1 %)
entre 1994 e 1999 (de 1.661 mil para 2.378 mil, aumento de 717 mil no total;
por ano 717/5 = 143,4, o que dá 8,7 % no primeiro ano (1995/1994), como média.
Ora, 500 mil como média em relação a 2,4 milhões é mais de 25 % [ou seja, em
razão de suas projeções o governo esperava fazer crescer o número de vagas
entre 2000 e 2010 na base de 25 % no primeiro ano, enquanto antes ficou em
menos de 9 % (é média; se não tivermos cuidado seremos enganados; mas aqui
queremos avaliação qualitativa, no sentido de demonstrar a falácia; para
demonstração mais apurada vá fazer os cálculos com precisão], em resumo, É
FALSIFICAÇÃO, apenas anúncio. O governo executivo não pretende mesmo fazer
aquilo, apenas está capitalizando sobre a ignorância do futuro e da população de
como tratar os números.
Está mentindo.
Se fosse governo
sério como o canadense onde, dizem, mais de 25 % dos atuais mais de 30 milhões estão
formados (não estão na escola superior, não, formaram-se, terminaram os cursos;
30/4 = 7,5 milhões de indivíduos) e como passamos de 180 milhões, deveríamos
ter 180/4 = 45 milhões de formados. Temos poucos, não sei quantos, vá procurar
saber; em todo caso devem faltar pelo menos uns 35 milhões, o que mostra bem o
desprezo do governo executivo brasileiro e dos demais governos (legislativo e
judiciário) por nossa gente que vá além dos ricos e médios-altos e dos poucos
esforçados.
Como vimos, os da
faixa 18-24 devem ser 12,5 ou 1/8 da população; os ricos e médios-altos eram (5
+ 15 =) 20 % do total, de 180 milhões (180 x 0,2 =) 36 milhões, dos quais 12,5
% são 4,5 milhões; se eram 2,4 milhões no ensino superior em 1999 e estava
crescendo 9 % ao ano, em 2004 serão 2,4 x 1,095 (9 % por cinco anos)
= 3,7 milhões. Ficariam de fora 0,8 milhão de ricos e médios-altos. Como os
ricos e médios-altos encurtaram desde 1991 de 20 para 15 %, são agora na
população de 180 milhões (180 x 0,15 =) 27 milhões, dos quais 12,5 % são 3,4
milhões, ficando excluído 1,1 milhão, o que mostra um programa RENTE de
matrículas apenas dos ricos e médios-altos. Médios, pobres e miseráveis
totalmente excluídos. Claro que sempre há alguns ricos e médios-altos que não
desejam cursar ou, dentro os ricos, alguns que saem pelo mundo à procura de
melhor formação, mas os cálculos acima demonstram a quem se destinam as vagas.
O governo não planeja introduzir os outros, nem instalar no Brasil um programa canadense
amplo de formação universitária; pretende incluir os ricos e médios-altos que
estão de fora, mais alguns dos outros que serão cooptados para impedir a
decadência mental. Tudo é tão simples: basta ter olhos de ver e números de
contar.
Vitória, domingo, 05
de setembro de 2004.
NOTA: dos estimados 166,9 milhões de 1999
cerca de 12,8 % (cerca de 21,4 milhões de indivíduos) estavam na faixa 18-24;
desses, 11,3 % freqüentavam a universidade, ou seja, 1,44 % do total (como foi
dado: 2,4 milhões de indivíduos). As faixas são relativamente inelásticas.