Guerra das Quadradas
Contra as Redondas
Como vimos vendo no
Modelo da Caverna, borbulhou lá dentro e vieram vindo para fora os quartos
redondos encavalados (vá seguindo a trilha para trás), formando uma espécie de
colméia. Quando do lado de dentro as paredes da caverna e o teto em sustentavam
conjunto a disposição em colméia, mas do lado de fora era diferente, porisso
desde que largaram a boca da caverna as casas montadas foram diminuindo de
espessura, até restarem poucas sobrepostas.
Seguiram aquele ritmo,
indo se distanciando, sempre redondas, até que romperam o vínculo com a caverna
e se tornaram separadas, sempre emboladas; depois apareceu para assombro uma
primeira rua heterodoxa, a segunda com muito custo, uma terceira indicando
separação muito esquisita por parte dos distanciados em relação àquilo que era
a verdadeira comunidade unida e assim por diante até que deu nisso que julgamos
a única realidade possível, as cidades com ruas formando ilhas e arquipélagos.
Demorou muito até as áreas urbanas estarem separadas por ruas e demorou mais
ainda até as casas serem quadradas, indicando a presença e domínio dos homens.
Casas quadradas, com ruas quadradas, mais ainda.
Primeiro só os
mal-amados que sofriam do mal incurável de solidão poderiam pensar em algo tão
estressante quando a separação. Depois, era esquisito demais, destoava do que
era certo. Finalmente aconteceu que as primeiras “comunidades quadradas” se
firmaram, começaram a avançar muito mais depressa, pelas razões apontadas, e a
acumular mais rapidamente as riquezas e as posses, ficando as “comunidades
redondas” como atrasadas, as de gente pobre, ainda que sábia, conhecedora das
artes antigas. Uma primeira casa quadrada surgiu, depois uma segunda e foi
proliferando, até que se tinha uma cidade inteira quadrada, com quintais
quadrados, tudo quadradinho.
Então, é claro,
houve uma luta, um confronto entre as quadradas e as redondas, uma guerra que
como sabemos as redondas perderam, foram derrotadas e morreram todas à míngua,
até que hoje só temos quadradas (o que é errado, por sinal). Essa marcha que
estou descrevendo das protocasas e das protocidades deve ser pesquisada pela
arqueologia, pois há um lapso: fica parecendo que demos um salto, saindo diretamente
das cavernas para Jericó, Mohenjo Daro, Harappa e Çital Huyuk. Claro que não
pode ter acontecido assim: também aqui está faltando o elo-perdido. VÁRIOS
elos, aliás.
Vitória, quarta-feira,
18 de agosto de 2004.