terça-feira, 20 de setembro de 2016



Esculpido e Encarnado


 


Encontrei um doido na rua que se dizia mágico.


Fiquei pensando: “cada maluco que me surge”. “Quanto mais rezo, mais assombração aparece”.


Ele se dizia artista.


Ele era bom, me dispus a aprender com ele as artes da escultura, alto e baixo relevo, estatuária, tudo mesmo. Posso dizer que era bom, bom mesmo, o bicho era competente, me ensinou a mais fina arte.


O povo diz “cuspido e escarrado” quando quer dizer “esculpido e encarnado”. Pois só assim para descrever a fidelidade das obras, não só as dele como também as minhas. Tinha que seguir um ritual, falar umas palavras, eu por dentro ria, quá, quá, quá, que trouxa.


Acho que ele disse que era Benildo, sei lá.


BERNINI


Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKoOUQoXrPApgWIzTjg_DGuJacOO5cPCKidq7rX1onNM5rfItORqO9K4UIzuOl7v8k-6Z_IIRTYgxjUrLQjQj4Mayn5YPQKnzY1WNQPmGkN0Ze_ZS8sLFFhEDeB0IBkVp2D9VU9Ph-kWg/s1600/BerniniDavidFace1c.jpg
Descrição: http://www.friendsofart.net/static/images/art1/gian-lorenzo-bernini-fountain-of-the-four-rivers.jpg
Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifVv5J_VCQ1mzr5XRWtYS_VOUbPOFzL8rJM7UJXgaEgVw5glLmUjynRgJQ4C4TGl9c9wwSWoHLuI-nRGy_FgUDMcBBIZs9pBe7ociGmLg1fJEhKDuHNeyFsbcHwZcPv37JB8Ngjp45eTI/s1600/bernini_mail.jpg
Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhELxPvjSJhF36YYPaHyjNsHC_mnvauacB5GmZeCif9cPA37E36pWyKaTpOZBRdl678l-dx2l-ksulnTw6MoodzcaLX9KmAJIXLTkikwo81eW3Curqf2HI6iMIO1ny-BJLinEVU8kFA08D2/s1600/cgfa_bernini1.jpg


Disse que eu estava “quase pronto”, queria que eu ficasse mais seis meses a um ano, sei lá, “para conhecer todas as chaves”. Por acaso sou porteiro?


Pulei fora, mano.


E fui fazer minhas esculturas.


Fiz umas obras de arrepiar de tão autênticas, de tão verdadeiras. A pessoa olhava e lá estavam as veias, pareciam pulsar, era realmente de apavorar. Se você encostava a orelha ao peito parecia ouvir o coração, ui, era aterrador. Os cílios, nossa, que perfeição, até eu ficava emocionado comigo mesmo.


Aí comecei a olhar fixamente as esculturas.


Elas pareciam vivas, mesmo.


Olhei mais de perto.


Olhei os olhos, eles pediam ajuda, fiquei com os cabelos todos em pé. Olhei as primeiras estátuas de gatos, cachorros, cavalos – parecia que eles queriam sair lá de dentro, como se estivessem dentro de uma prisão. Cruzes! Levei um choque: e se eles estivessem vivos? E se com as fórmulas mágicas eu tivesse aprisionados corpos vivos dentro das pátinas das esculturas? E se eu tivesse trazidos todos e cada um de suas vidas? Fiquei assombrado, já não dormia, tinha pesadelos. O que o Benildo fizera comigo? Puta merda! Onde eu fora me meter?


Meu Deus do Céu, que pecados eu cometera?


Fui me confessar, comunguei, o que eu não fazia há décadas. Puta merda! Que roubada! Tentei achar o Benildo, mas não fui capaz. E lá estavam as esculturas no estúdio...


Fechei tudo e fugi do ES, vim para os lençóis maranhenses. Nunca mais voltei, nem quero voltar.


Serra, segunda-feira, 23 de julho de 2012.



Em Resumo

 

NA INTERNET:Resumão dos melhores livros! Imperdível! Para pessoas muito ocupadas sem tempo para leitura... O poder de síntese! ”

AUTOR E LIVRO
RESUMÃO
Gustave Flaubert: Madame Bovary.
778 páginas.
Uma dona de casa mete o chifre no marido e transa com o padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do boteco, o dono da mercearia e um vizinho cheio da grana. Depois entra em depressão, envenena-se e morre.
Leon Tolstoi
Guerra e Paz.
Paris, Ed. Chartreuse. 1200 páginas
Um rapaz não quer ir à guerra por estar
apaixonado e por isso Napoleão invade
Moscou. A mocinha casa-se com outro.

Luís de Camões: Os Lusíadas.
Editora Lusitânia
Um poeta com insônia decide encher o saco do
rei e contar-lhe uma história de marinheiros que,
depois de alguns problemas (logo resolvidos por
uma deusa super gente fina), ganham a maior
boa vida numa ilha cheia de mulheres gostosas.
Marcel Proust: À La recherche du temps perdu.
(Em Busca do Tempo Perdido) Paris, Gallimard. 1922. 1600 páginas.
Um rapaz asmático sofre de insônia porque a
mãe não lhe dá um beijinho de boa-noite.
No dia seguinte (pág. 486 vols. I), come um bolo e
escreve um livro. Nessa noite (pág.1344, vol.VI)
tem um ataque de asma porque a namorada (ou
namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos.
Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão
todos muito velhinhos - e pronto.
Sófocles: Édipo - Rei
 
Maluco tira uma onda, não ouve o que um
ceguinho lhe diz e acaba matando o pai,
comendo a mãe e furando os olhos.
Por conta disso, séculos depois, surge a
psicanálise que, enquanto mostra que você vai
pelo mesmo caminho, lhe arranca os olhos da
cara em cada consulta. Parada muito doida.
William Shakespeare
Hamlet
 
Essa é foda.
Um príncipe com insônia passeia pelas muralhas
do castelo, quando o fantasma do pai lhe diz que
foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo
homem de confiança é o pai da namorada, que,
entretanto, se suicida ao saber que o príncipe
matou o seu pai para se vingar do tio que tinha
matado o pai do seu namorado e dormia com a
mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a
mãe, depois de falar com uma caveira e morre
assassinado pelo irmão da namorada, a mesma
que era doida e que tinha se suicidado.
William Shakespeare
Othelo
Um rei otário, tremendo Zé-roela, tem um amigo
muito filho da puta que só pensa em fazê-lo de
bobo. O malandro, não ganha um cargo no
governo e resolve se vingar do rei, convencendo-o
de que a rainha está dando pra outro. O Zé
Mané acredita e mata a rainha. Depois descobre
que não era corno, mas apenas muito burro por
ter acreditado no traíra. Prende o cara e fica
chorando sozinho.
William Shakespeare
Romeu e Julieta
Dois adolescentes doidinhos se apaixonam, mas as famílias proíbem o namoro, as duas turmas saem na porrada, uma briga fodida, muita gente se machuca. Então, um padre filho da puta tem uma idéia idiota e os dois morrem depois de beber veneno, pensando que era sonífero.
Você economizou a leitura de pelo menos 7.000 páginas e R$ 1.500,00 em livros, e agora pode comprar tranqüilo a sua coleção de Caras ou Playboy!

Você pensou que era gozação?

Não, de modo nenhum.

Que é Gênesis senão um resumão de Moisés?

Ô, mermão, ali tá toda a físico-química e a biologia e a psicologia da Criação, quando Deus fez esse mundo velho sem porteira. Você acha que Moisés colocou tudo ali? Que ele levou caneta e papel para a aula? Ah, vamos e venhamos!

Ali tem muita coisa embutida para você ler nas entrelinhas, tanto assim que os tecnocientistas vem repetindo ipsis litteris (ao pé da letra) a Gênese na cosmogênese. E você acha que as gêneses dos outros livros sagrados é diferente? São aulas, meu nego. É assim: quando a gente encarna esquece quase tudo, lembra retalhos, pouca coisa, remendos do Aulão da Criação, aquele conhecimento que você tem lá do outro lado antes de encarnar.

Quando nasce aqui, morre do outro lado; e ao vir, esquece quase tudo, exceto esses traços que você enxerta na realidade daqui, com grandes buracos.

OS MITOS OU MODELOS DA CRIAÇÃO

POVO
MITO
Maia
Nórdica
Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjou3zCqvqXr6pDktcWklhxJQhJ5HieQYknBkISaJADAfIsLEHraYzjo7dPDN4r6msM3DxSA_xiscD47W71r0HM0D1CDmVXmgtm4jGtDCLX4la7kav-di10Mcm119rFn3bGwybnLJa7BDo/s1600/As+Melhores+Hist%25C3%25B3rias+da+Mitologia+N%25C3%25B3rdica.jpg
Irlandesa
Yggdrasil
Africana
Polinésia
Chinesa

O caso é que essas pessoas são do tipo que recorda MAIS, compreende? Tem boa memória. Você e eu, pobre de nós, com essas memórias nossas... Mas esses caras, tipo Moisés, tipo os xamãs das origens que ditaram à posteridade os Mitos da Criação, esses se recordaram das aulas até muito bem. Pode saber o seguinte: todos eles têm fundo tecnocientífico. Quando a tecnociência estiver mais avançada, veremos que as coisas dos mitos e das lendas são contagens enjambradas da verdade Matemática do mundo.

Como não seriam?

São, sim, claro que são.

Tintim por Tintim.

Sem tirar nem por.

Por quê a T/C de agora estaria replicando os mitos?

Porque não há como não replicar, dado serem os mitos a mesma T/C, só que distorcida, compreensão incompleta da realidade astrofísica e cosmofísica do universo.

Vai por mim.

Serra, segunda-feira, 09 de julho de 2012.

Em Busca do Entendimento

 

No ônibus o motorista virou-se para trás:

- Que hora é aí?

- A mesma daí.

- Não, qual é a hora no seu relógio?

- No meu relógio não é hora nenhuma, ele é um marcador supostamente síncrono com o tempo do mundo. É um artefato, não tem hora dele, é a hora geral.

- Não, qual é a hora?

- É a do fuso horário.

- E qual é a hora do fuso horário?

- 10.

- 10 em ponto?

- Não, já passamos do ponto.

- E então?

- Então o quê?

- A hora.

- 10, já falei.

- Mas é 10, exatamente?

- Não, exatamente, não.

- Então, quantos minutos?

- 35 minutos.

- Cê é difícil, hem?

- Difícil em que sentido?

Um passageiro, incomodado, gritou lá de trás.

- Motorista, não dá papo pra esse cara, vê se olha pra frente, porra!

- Difícil no sentido de que a gente tem de ser muito precisa.

- É, precisão é fundamental.

- De onde você é?

- Daqui mesmo.

- Daqui, onde?

- Da Terra.

- Não, de que estado e cidade?

- Do Espírito Santo.

- De que cidade?

- Em que sentido? Onde nasci ou onde moro?

- Onde você nasceu?

- Ah, em Alfredo Chaves.

- E mora aqui?

- Aqui, onde, dentro do ônibus? Não, moro em Jacaraípe.

- Pô, motorista, olha pra frente... Não tem uma placa dizendo para não falar com o motorista?

Outro passageiro entra em cena.

- Você não tá falando com o motorista, seu idiota?

- Idiota é a mãe.

- Não bota a mãe no meio, seu corno.

- Ô, seus babacas, vão ficar igual umas franguinhas aí?

- Cala a boca, seu otário.

- Quem é otário, seu animal?

Daí desandou, dei sinal e desci.

Serra, sexta-feira, 20 de julho de 2012.

Eco-Loja

 

Em vez de apenas vender, a proposta desse grupinho era efetivamente defender os valores da Vida, a de fungos, de plantas, de animais e de primatas. Vendiam livros, faziam palestras, protestavam nas ruas, enviavam missionários às casas das cidades, faziam e aconteciam.

Não estavam ali apenas para ganhar dinheiro.

A loja era apenas a boca da garrafa, o bico do funil – ela ajuntava de toda parte e reunia num lugar. Focava. Juntava e rejuntava as pessoas interessadas, gente de todo tipo, de toda profissão, idade, classe social, sem qualquer complexo ou restrição.

ECOMÉRCIO

Descrição: http://images02.olx.com.br/ui/15/14/78/1319577298_269420678_1-ECO-PANOS-TEXTIL-COMERCIO-E-CONFECcaO-LTDA-11-2241-2782-Jacana.jpg
Eco-danos.
Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzs5DtVvK7ukTP1RsGwZNdWVVDEz9XQJuqHwrFhbbJWPEv5_9DHinfvKiUt1ATOnzNLrdvL3Jz6A5072zsOZIPwVHUAjuVgxUxIAgvtC-8897SJXe98jBqw9wo6fTrDGy6ZLmVUuLdd7jV/s640/ecocomrciojulho1201.jpg
Descrição: http://br.all.biz/img/br/catalog/92813.jpeg
As atividades supostamente ecológicas se tornaram tão daninhas quanto as outras.
Descrição: http://www.hotfrog.com.br/Companies/guaraflex-industria-comercio-ltda/images-pr/Sacolas-Eco-Sacolas-Praia-164945_image.jpg
Sacola cínica (é de plástico para combater os plásticos).

O principal era a mensagem.

Mensagem de salvação.

Mensagem de proteção.

Conversavam e os que vinham decidiam colocar franqueamento, o dinheiro sendo somado e vigiado por todos para o crescimento contínuo em todas as cidades, todos os estados/províncias, todos os países.

Era o bastante para sobreviver e sobre-viver em alegria e compartilhamento, em comunhão em prol de uma causa boa. A causa era a causa-razão de eles viverem.

Colocaram um jornal, o Jornaleco, de que já falei noutra ocasião.

Colocaram rádio, a Soneco.

Implantaram uma filosofia de vida, literalmente, a Ecosofia.

Convidaram pessoas para palestras e, ao ir, elas levavam a ideia central para implantar noutros lugares.

Cresceu como fogo.

Era bar também, boa cerveja, chope, vinho, coisas de baixo teor, o objetivo não era a bebedeira, era conversar, com-versar, versar junto: fizeram versos, publicaram livros. Publicaram livros das palestras e dos debates intramuros.

Não faziam questão de luxo, o desígnio central era estudar o passado, o presente e o futuro das relações biológico-psicológicas. E o lixo? E o luxo? E as embalagens? E os sacos plásticos? E as usinas nucleares? E o assoreamento dos rios? E o avanço da produção sobre as áreas de proteção? E os circos escandalosos de animais? E os zoológicos? Faziam camisas, vestiam as camisas literal e metaforicamente. Foram às câmaras de vereadores, foram às assembléias, foram ao Congresso, aos governantes, aos juízes, às escolas, às universidades. Conforme o número das pessoas interessadas ia crescendo foram visitando mais e mais gente.

Não constituíram um partido de cima para baixo. Conversaram com as crianças, instituíram o Vida na Escola, pretendendo salvar boa parte dela da agressividade humana.

Serra, quinta-feira, 19 de julho de 2012.