sexta-feira, 16 de setembro de 2016


Lamurbana

 

Esse cara tem uma propriedade rural lá pelos lados de Rio Quartel, em Linhares, e construiu tudo com lama: no campo de futebol você enterra até acima dos tornozelos. Nas pistas de corridas você derrapa à bessa. Há piscina de lama, depois passada por filtros para purificar; você pode pular do trampolim na lama “bem molinha”, como dizem os baianos, e a sensação é indescritível, pois amortece muito mais a sua queda. As pessoas se jogam lama tal como, nos países frios onde neva, outras se jogam bolas de neve.

De início as pessoas chegam lá durinhas, todas emproadas, distintas nos seus papéis urbanos, cientes de sua importância desnecessária. Colocam-se nos seus papéis de adultos destacados e sofrem neles e ficam nas cadeiras silenciosas e ausentes, adultas.

Esse nosso amigo começou levando convidados. Ele é muito simples, espontâneo, risonho, brincalhão, foi o primeiro a cair na farra; quando fomos da primeira vez não entramos logo no espírito da coisa, precisamos beber bastante, e alguns só entraram na festa muito depois. As mulheres - quase todas muito limpinhas - não gostam muito disso, têm medo de entrar algo pela pele, mas depois aderiram em massa quando viram que era tudo preparado com cuidado.

Daquela vez foi um filósofo e começou a falar de brincadeira das imundícies espirituais que vamos acumulando nas cidades, a lama-urbana (daí o nome). O que era inicialmente gozação foi aprofundando cada vez mais, calou fundo nas almas, e quando as pessoas voltaram para a Grande Vitória, cada qual para seu lar, foram pensando.

BANHOS DE LAMA

Descrição: http://www.jornaldelondrina.com.br/midia/tn_280_651_trote_banho_de_lama_imp_02-03.jpg
Descrição: http://thumbs.sapo.pt/?pic=http%3A%2F%2Fimgs.sapo.pt%2Fgfx%2F478001.gif&W=555&H=390

As pessoas introjetaram a lição.

Estas falaram com outras, que queriam ir, mas o lugar não comportava tantos assim e de todo modo tudo tem custo (água tratada, lama especial bem fininha, locais a construir, energia, trabalhadores) que os amigos não pagam; contudo, a insistência foi tanta que ele usou outra propriedade próxima na Suruaca para criar a Lamurbana Ltda., na qual investimos.

A coisa espalhou e agora estamos na fase de planejamento do franqueamento, com arquitetos e tudo, gerentes treinados, etc.

Dentro de nós há lembranças de quando éramos crianças e livres, sossegados das coisas, despreocupados de todas esses milhares de coisas que nos sufocam hoje em dia. Não há ninguém a culpar, fomos nós, com nossas ambições desenfreadas, que nos colocamos nas arapucas. No nosso caso em especial, vamos quando ele nos convida para tirar as peles que nos sufocam, nos comprimem em comportamentos estereotipados. Voltamos de lá remoçados para enfrentar mais algumas semanas de aborrecimentos. As crianças, claro, adoram.

Quando o projeto da Serra estiver pronto, iremos, mesmo pagando, porque fora da oferta dele tudo é pago, tal como deve ser.

Serra, sexta-feira, 22 de junho de 2012.

Jorge Chacinou Minha Família

 

Parece que toda gente respeita Jorge, mas o que posso dizer é que ele matou minha família toda, só eu fiquei para semente e mesmo assim não tenho onde depositar, porque não encontro com quem.

Primeiro ele matou papai, quando ele apenas foi conversar, queria bater um papo, papai era muito amistoso, muito cordato, muito educado, todo mundo na vizinhança o conhecia, ele era muito apreciado. Cuidadoso e gentil, ele socorria todo mundo que podia nos churrascos, era exímio acendedor de fogo, ajudava a levar encomendas daqui para lá e trazer na volta de suas viagens aéreas. Amistoso papai era, era o próprio retrato da amizade, brincava com as crianças das redondezas, elas riam que só elas, ele levava a gente junto, eu, meus irmãos e irmãs, dois tios por parte de mãe, vovó e vovó em volta.

Jorge enfiou-lhe a faca.

Deu-lhe várias facadas, aquela faca grande que ele tinha.

Supostamente papai teria atacado uma mocinha das redondezas.

Onde?! Como seria possível? Mamãe tinha um ciúme doentio dele, coisa das antigas, não desgrudava os olhos dele, tanto assim que nesse dia estava do lado.

Sem dó nem piedade Jorge esfaqueou-o à vista de todos, crueldade tremenda que ninguém tinha visto antes, as pessoas ficaram pasmadas, de boca aberta, sem ação.

Eu não entendo porque ainda chamam Jorge de santo.

SÃO JORGE E O DRAGÃO, DIZEM ELES (o gemido dos escondidos)

Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik5wAwK5SvyfPoc9uNitRKntTK0XJN0CSGT4O510hfaFGYZ_pqgdDhftz5gf3cHfRHwxAZnihFULDwLzJWzsnnyLg6k2mgOvCoz4B6pz8hJQdrKknv3hwpfZk0-Iy9SRLH8anEDUFzeFez/s400/s.jorge.jpg
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Descrição: http://www.arquidiocesebh.org.br/site/admin/funcoes/imgs_upload/image/sao_jorge%203.jpg

Quando mamãe, horrorizada, correu para acudir aos prantos, cuspindo fogo como todos cuspimos em razão da ardência estomacal, Jorge disse que se sentiu provocado e matou-a também. Várias senhoras boas da vizinhança não agüentaram a cena e desmaiaram. Chamaram o médico, mas era tarde para mamãe.

Então, num acesso de fúria Jorge entrou na nossa casa e matou vovó, vovô, os tios, os irmãos e as irmãs.

Só eu sobrei porque estava brincando no fundo da caverna e por lá mesmo fiquei, sem qualquer reação por dias a fio, até que fugi pela chaminé e vim embora pedir asilo na Inglaterra. Depois que passei pela infância e a adolescência, já na idade adulta comecei a colocar anúncios nos jornais. Tenho medo de colocar na Internet um pedido de encontro com alguma fêmea remanescente, pois o Jorge poderia saber e vir atrás de mim. Talvez ela tenha passado pela mesma coisa.

Matriculei na universidade, em engenharia de minas, caldeiraria.

Vivo assustado, não durmo direito, estou tomando sedativos e sendo consultado pelos psicanalistas. Trauma de infância.

Fazer o quê, né? Assim é a vida.

Serra, quarta-feira, 13 de junho de 2012.

Joguesfera

 

Em vez de usar espingardas do paint boll, essas pessoas passaram a usar umas bolas bem duras de plástico de vários diâmetros que eram manualmente arremessadas sem muitos danos. Era pelo frisson, pela emoção da caçada, sendo cada qual atingido sem dores acentuadas.

Dali passaram a coisas mais perigosas, por exemplo, jogar as bolas com aquelas palmas de arremesso em quadra, pelota basca.

JOGA BOLA, JOGADOR

Descrição: http://www.faberludens.com.br/files/imagepicker/g/gonzatto/bolas.jpg
Descrição: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c2/Campo_de_futebol_medidas.jpg
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Essas bolas podem adquirir velocidades enormes, incríveis.

Nas mãos de pessoas fortes, musculosas, treinadas em academias, mais ainda, atingindo realmente velocidades que colocadas nas equações E = ½ mv2 carregavam energias altas, entregues na “quantidade de movimento” q = mv. Podiam demolir uma pessoa, fraca ou forte, podiam machucar, podiam fraturar ossos.

É evidente, ataque aprimorado leva a defesa aprimorada, porisso as pessoas passaram a usar roupas acolchoadas e super-acolchoadas, com capacetes de moto e depois próprios da brincadeira.

Se a defesa avança um passo o ataque ousa mais.

Fizeram manoplas mais perfeitas, as bolas percorrendo arco maior antes de serem arremessadas; e se a pessoa girasse, como no arremesso do malho nas olimpíadas, a velocidade multiplicava por fatores significativos, de modo que a porta de um carro podia ser empurrada para dentro. Se fosse bala pequena de metal podia perfurar a lataria, podia ferir quase como bala de arma de fogo a pessoa.

As pessoas colocaram plaquetas de aço por dentro da roupa, colocaram anéis de aço, colocaram kevlar, colocaram fibras trançadas e assim foi o gato perseguindo o rato, e o rato fugindo e se defendendo, elevando ambos o status de ataque-defesa até as esferas atômico-nucleares e os escudos nucleares-atômicos. A corrida armamentista foi crescendo sem limites, o complexo industrial-militar da Joguesfera exigindo verbas cada vez maiores, sangrando a população jogadora com orçamentos inqualificavelmente altos.

As pessoas gemiam.

Quem começara aquilo?

Ninguém mais sabia por que apanhava ou porque batia.

Era a chamada Guerra da Bola, até alguém propor superar tudo isso com a sublimação, transformando-a em Guerra da Pelota, a bola de futebol, o que foi feito, só que ficaram as duas: agora as pessoas sofriam duas vezes, sustentando duas vertentes - com parasitas em ambas.

Ah, vá compreender a humanidade.

Racional, mas não muito.
Serra, quinta-feira, 05 de julho de 2012.

O Humano no Grande Projeto

 

TIRADO DE ‘DIVERSAS COISAS GOVERNAM OS HOMENS’ (e modificado)

Macropirâmide.
22. Pluriverso.
p.6.
Dessas nada sabemos.
DIMENSÃO
21. Universos.
1026 m
20. Superaglomerados.
Dialógica.
 
 61 ORDENS DE GRANDEZA EM POTÊNCIAS DE 10 DO COMEÇO AO FIM.
19. Aglomerados.
18. Galáxias.
p.5.
17. Constelações.
16. Estrelas.
Cosmologia.
Mesopirâmide.
15. Planetas.
15. Mundos.
p.4.
Coisas informacionais.p.4 (incompletas) nos governam.
14. Nações.
13. Estados.
Informática.
12. Cidades-municípios.
11. Empresas.
p.3.
Coisas psicológicas-p.3 nos governam.
10. Grupos.
9. Famílias.
Psicologia.
8. Indivíduos.
Micropirâmide.
8. Corpomentes.
Segunda ponte.
Coisas biológicas-p.2 nos governam.
7. Órgãos.
6. Células.
Biologia.
5. Replicadores (ADRN).
4. Moléculas.
Química.
Coisas físico-químicas nos governam.
3. Átomos.
2. Subcampartículas (abaixo dos de cima).
Física.
1.                   Campartícula ou partícula fundamental ou cê-bóla.
10-35 m

CARACTERISTICAMENTE HUMANO (é a plataforma de lançamento da razão ao restante universo – a galáxia não será somente “esverdeada”, não será apenas vitalizada, será racionalizada-humanizada-psicologizada e daí para cima, para a super-razão)

MESOPIRÂMIDE.
15. Mundos.
p.4.
Coisas informacionais.p.4 (incompletas) nos governam.
Plataforma de lançamento até a constelação, a galáxia, o aglomerado, o universo.
14. Nações.
13. Estados.
Informática.
12. Cidades-municípios.
11. Empresas.
p.3.
Coisas psicológicas-p.3 nos governam.
10. Grupos.
9. Famílias.
Psicologia.
8. Indivíduos.

De fato, o ser humano é ponte sobre o abismo, mas tudo é, a Vida geral também, como agora a Psicologia geral: tudo pode levar à queda, ao não prosseguimento, ao estancamento, ao esboroamento, à decadência, à aniquilação, à derrocada, à síncope, ao desaparecimento, ao colapso – cada passo que se dá reabre o dilema entre o sim e o não.

A LANÇA, A PONTA DA LANÇA, O CRISTAL NA PONTA DA LANÇA

A LANÇA
A PONTA DA LANÇA
O CRISTAL NA PONTA DA LANÇA
Físico-química.
Biologia-p.2.
Psicologia-p.3
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Construção extraordinária, de fato.

Tudo é composição: haverá o momento em que os novos-seres, novosseres, NOS mesmo iremos adiante como uma espécie nova, múltipla em corpos e razões, como venho desenhando.

Tudo é trânsito, uma vez arremessado no Barulhão (o Big Bang).

Nem orgulho nem submissão, nem projeção nem encolhimento.

Simplicidade no ver e no agir.

Vitória, sexta-feira, 16 de setembro de 2016.

GAVA.

Jesus Celestial, Filho do Céu

 

- Venerável Mestre, fiquei pensando se Jesus não tivesse nascido no Império do Meio, o que teria acontecido?

- Você não foi o primeiro a pensar isso, Huang. Ao longo de todos esses séculos inúmeros aventuraram-se nesse caminho, a maior parte para dar lições aos tolos, mas houve alguns maliciosos.

- Como assim, mestre?

- Bem, uns pensaram nas conseqüências para nossa nação e outros para as demais, todas aquelas que não foram brindadas com sua presença luminosa. Teria sido um desastre para nós não poder contar com sua temperança, seus ensinamentos. Já pensou nisso?

- Não, mestre, é impensável.

- No entanto, alguns pensaram, há toda uma biblioteca com milhares dessas divagações. Há um livro, em especial, que foi escrito por uma pequena nação a partir de sua própria experiência, a Bíblia - na língua deles O Livro -, que o autor dividiu em dois capítulos, Antigo e Novo Testamento. Neste último, outro Jesus constrói outro grupo de mestres apostólicos que saem pregando a Boa Nova pelo mundo.

- Que curioso!

- Foi mesmo, tremenda disciplina, milhares de páginas, foi exercício talentoso que nos mostra como o mundo fora da China se tornaria confuso e caótico. Sem o Filho do Céu, o Imperador Benévolo que guia rumo às maiores conquistas seguindo as normativas de Jesus, o Celestial, através do Conselho dos 12, teríamos nos tornado perversos.

- Vale a pena ler ou é perda de tempo?

- Vale a pena, como exercício, desde que você não se deixe afundar no envenenamento.

- São livros elucidativos?

- Bem, é ficção, romance, ficção científica até, alguma fantasia, quase tudo vale a pena, acho até que vou recomendar que a sua classe pegue, cada qual seu livro, no final fazemos debate no auditório. Como você sabe, a presença dos precursores Sidarta Gautama da Índia e Kung Fu Tse e Lao Tse da China preparou o caminho do Senhor.

- Não é muito pesado para nós, mestre?

- Certamente seria se fôssemos a fundo. Não vamos fazer isso, que fica mais a cargo dos pesquisadores, vamos ser superficiais. Taí, essa é uma boa ideia.

Serra, terça-feira, 19 de junho de 2012.