terça-feira, 13 de setembro de 2016


Posso Ajudar?

 

Espelhando-se na iniciativa bancária os governos colocaram esse serviço nas praças e esquinas de ruas, transformando aquelas em Praças Psicológicas, conforme certo camarada falou aí.

Sob condução do governo federal, com participação dos 26 estados e do Distrito Federal, com a ajuda das 5,5 prefeituras no que puderam, foram contratadas as pessoas idosas (que, assim, tinham chance de sair de casa, respirar ares novos, conversar, sentirem-se úteis, ganhar algum dinheiro, desanuviar o ambiente familiar das reclamações da idade e assim por diante), alimentadas obrigatoriamente pelo menos cinco dias (com testemunho dos donos de restaurante). Com a participação de organismos internacionais, como BIRD e BID, a ONU e outros, esses idosos e idosas foram treinadas e vestidas com camisas  em que eram escritas na frente e atrás a frase “Posso Ajudar?”

E as pessoas, precisando, conversavam com eles, que ouviam ativa e atentamente, com toda dedicação. Também, se os jovens precisavam de qualquer coisa, diziam, tudo sendo anotado e transmitido ao grupo de controle, este de jovens, que então telefonavam ou se comunicavam por e-mail para tentar resolver os problemas.

Como eram 5,5 mil cidades, tomando em média 20 quadras seriam estas 110 mil; se houvesse um idoso por quadra, custando cada qual mil reais por mês (salário de 620 + 380 de refeições), seriam 110 milhões por mês, com 13,33 salários/ano, menos de 1,5 bilhão de reais/ano, em todo caso menos de US$ 1,0 bilhão/ano para dar atenção a todos os brasileiros em todas as cidades. Ouvido para ouvir com desvelo e atenção da idade a todos os jovens, experiências do envelhecimento; e para os idosos, renovação de suas vidas e para duas famílias.

POSSO AJUDAR?

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Descrição: http://www.fernandamusardo.com.br/wp-content/uploads/2012/01/posso-ajudar.jpg

Nos primeiros anos as pessoas achavam esquisito, mas no correr da primeira década ótimas notícias apareceram; claro, houve confrontos, desacertos, mas no todo foi tremendamente positivo e logo as pessoas não podiam passar sem os idosos. Quando eles faleciam os jovens iam a suas casas prestar condolência e dar apoio às famílias.

Foi um acontecimento.

Serra, quinta-feira, 10 de maio de 2012.

Porque os Homens não Choram

 

Desde quanto os deputados tinham passado a Lei da Plena Igualdade dos Gêneros (como o Brasil gosta de siglas, LEPIGE) homens tinham plena liberdade de chorar em toda e qualquer situação. Na realidade eram até obrigados, dado as mulheres chorarem.

Assim liberados, os homens não choravam apenas nas guerras, inviabilizando-as (pois ninguém mais conseguia disparar, era contagioso, viam-se homens chorando desbragadamente por todo e qualquer motivo, de disparar até limpar e lubrificar as armas; sargentões choravam, era desesperador), choravam nas lutas de boxe - cada boxeador no seu canto debulhando-se nos baldes. Pedreiros choravam se o reboco não colava direito ou se um azulejo despencava, choravam em razão de tijolos rombos ou lajotas com pedaços quebrados. Os lanterneiros na montagem de navios choravam se viam uma chapa amassada, tadinha dela, sofrera tanto.

Deputados na tribuna choravam e não era por vergonha dos mal-feitos. Motoristas de ônibus estavam sempre com os olhos embaçados, sujeitos a muito mais batidas de ônibus. E se qualquer mulher chorava perto do marido este também se punha a chorar, desconsolado, sem saber como resolver os problemas do lar. Pedir para trocar uma lâmpada era pedir para qualquer homem desmontar. Consertar torneira vazando, então, nem pensar!

Se um cisco entrasse no olho de um gari e caísse uma lágrima em razão disso, era a conta, os outros todos se punham a chorar, pensando nas suas tragédias.

Nos supermercados as frutas amassadas causavam transtornos.

Se a roupa estava mal passada, choro.

Na hora de tomar vacina, choro.

Se o cachorro adoecia, choro.

Em suma, o país não avançava mais.

Por toda parte os homens choravam e as mulheres caíram no choro. Crianças, vendo pais e mães chorando, choravam desde o berço e com empolgação, pois pensavam tratar-se de brincadeira.

CHORORÔ

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Descrição: Os homens também choram
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Os homens não eram mais os esteios definitivos que tinham de ser, que tinham sido geração após geração.

Eles choravam.

As mulheres, vendo-se sem o “ombro amigo”, sem o irredutível, sem o forte, fizeram um panelaço com grande estardalhaço que a imprensa estrangeira noticiou. Os governos estrangeiros, temendo o exemplo brasileiro, isolaram o país, puseram-no de quarentena, acreditando ser uma epidemia.

O jeito foi, com grande choradeira, abolir a LEPIGE.

Serra, quarta-feira, 02 de maio de 2012.

Pit Boys

 

São filhos e filhas de pessoas sem compromisso social - a maior parte rica - que é solta de dentro do canil familiar para barbarizar a coletividade. Se não fossem as coleiras legais que usam e as mordaças barbarizariam muito mais.

OS OUTROS PIT (do Clube da Luta)

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Descrição: http://blogs.jovempan.uol.com.br/petrede/wp-content/uploads/2010/03/pitbull.jpg

Eles e elas não estão somente nos clubes, propagam a mensagem no cinema, na literatura, nas forças armadas, em toda parte – a Natureza os preparou 2,5 % ou 1/40 para os casos extremos, mas eles não se contentam, querem avançar na totalidade, sem saber que o lado quieto e não-expansivo é MUITO MAIS cruel, desde que seja provocado a ponto de ruptura.

Aí já seria tarde.

O problema todo é quando a ferocidade (que remete ao medo) é socialmente desenvolvida.

SÓCIOFEROZ

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Eles têm adestradores que os preparam para o ataque. E nós pagamos pro tudo isso.
Serra, sábado, 21 de abril de 2012.

Pintando o Set

 

Quando vou preparar uma novelha (novela velha, parece nova, mas não é) pintamos o set da cidade cinematográfica de vários modos:

1.             Primeiro o autor cria pessoambientes (PESSOAS: indivíduos, famílias, grupos, empresas; AMBIENTES: cidades-municípios, estados, nações, mundo), um roteiro convincente, que convença as pessoas que assistem, que pareça verdadeiro para os que desejam ser enganados;

2.             Depois, são construídos os cenários e as figuras (até fungos se necessário, plantas, animais, primatas, humanos) que vão “contra” -cenar, com as falas e até trejeitos humanos detalhadamente descritos;

3.            Os espaços da novelha devem ser vendidos como merchandising (mercadejamento), exposições pagas;

4.            As novelhas podem ser vendidas a outros países;

5.            O tempo entre uma seqüência e outra é vendido, são as propagandas; custa uma fortuna 30 segundos;

6.            Muitas outras dimensões, que não quero discutir, basta que sua atenção tenha sido chamada para a exposição a seguir.

SUPONHA QUE SEJA ISTO (preenchido quadro a quadro pelos maiores especialistas; depois transforme tudo num ponto, na ponta de um alfinete que está sendo introduzido em seu cérebro)

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Então, tudo isso é empurrado para sua mente.

Mesmo contando que você esteja ardentemente esperando ser enganado, quer dizer, que você não queira a libertação e a iluminação, ainda assim é poderosíssima construção. Veja só com que tremendos autores-psicólogos contamos. Sou apenas o diretor-psicólogo e, mesmo sabendo costurar tudo isso em credibilidade, minha parte no todo é relativamente pequena.

Somos um bando de enganadores.

Somos do circo-círculo, somos psicólogos.

Escrevemos para todos esses milhões a novelha das 14 horas, a das 17, a das 18, a das 19, a das 20h30min e até a das 21h30min. Os telespectadores espalhados por todo o Brasil, em todos os estados, e até nos países vizinhos.

Aquelas coisas se parecem com sua vida?

Muito remotamente.

Ela ataca problemas verdadeiros e angustiantes?

Dificilmente.

Contamos banalidades e você acredita.

Acredita porque crer acreditar.

Se você mora no “asfalto” se preocupa com quem mora na favela? Não acredito. Na realidade as pessoas estão pouco ligando. Quando aparece um “revolucionário” apelando para o “amor fraternal” alguém sente remorso e se junta à causa, principalmente se está passando necessidade, mas logo que enche as burras esquece-se do “irmão”.

Hah, 40 anos de observação.

Mantive este diário durante os 40 anos em que estou na TV, desde quando era ator até passar a diretor. Ano após ano venho colocando minhas observações e meus lamentos neste verdadeiro muro de lamentações que é este diário, primeiro em papel, agora na memória do computador com várias cópias. Nunca vou mostrar a ninguém, prezo demais esses milhões que juntei desde quando era “revolucionário”.

Meus tapetes felpudos, meu uísque 32 anos, meu iate de 60 pés, meu sítio cinematográfico em Petrópolis, minhas viagens, minhas amantes, os filhos bem criados, a mulher satisfeita, conta enorme de poupança, todas as facilidades.

Com minha mente investigativa vasculhei tudo, entendi os motivos verdadeiros, a motivação oculta, como defendemos o estabelecimento, o poder das elites burguesas com nosso divertimento MUITO BEM PLANEJADO, minuciosamente.

Nós pintamos mesmo, pintamos e bordamos.

Pintamos VOCÊ. Bordamos VOCÊ, seu pateta.

Enganamos, tripudiamos, enrolamos, dê o nome que quiser.

Quando nós pintamos o set é a sua cabeça que pintamos, usando nossas tintas psicológicas. Tornamos todos os telespectadores partidários dos nossos ganhos, assim como os jogadores e futebol e os artistas de cinema. Somos todos devotados defensores de uma causa, a nossa causa.

Serra, quarta-feira, 25 de abril de 2012.

Partido de Um Só

 

O doutor Alzino fazia parte de um partido que foi encolhendo. Ele próprio tinha mais de 80 anos, mas era resistente, não queria abandonar o barco, não era de desistir de compromissos assumidos. Quando viu, estava sozinho no partido, que foi obrigado a batizar de Partido de Um Só, o PUS. É que existem numerosíssimos partidos no Brasil, assim como os ministérios são quase 50 depois do PT, inclusive Ministério do Cachimbo Torto, Ministério da Porrinha, Ministério da Joaninha e a Ministra da Secretaria dos Assuntos Femininos, Aramis, amiga da presidanta brasileira, a presidente das antas.

Assim, o doutor Alzino era presidente do partido por aclamação, 100 % dos votos, sem uma única deserção, embora a consciência dele ponderasse: “talvez fosse melhor consultar as bases para uma candidatura alternativa, doutor Alzino”.

- Você acha, doutor Alzino?

- Sem dúvida, para manter o princípio democrático, não vamos lançar chapa única.

Porisso foram à convenção, que se deu no Álvaro Cobrão, em Bento Ferreira, Vitória, em estádio imenso no qual cabiam cinco mil pessoas sentadas.

Instalados os trabalhos em segunda chamada, doutor Alzino se dirigiu aos membros, chamando-os à ordem.

DOUTOR ALZINO (solene) – declaro abertos os trabalhos do PUS.

DOUTOR ALZINO (doutor Alzino corre até a platéia, sentando num lugar qualquer: dá licença, dá licença) – temos quorum, doutor Alzino?

DOUTOR ALZINO (perscrutando) – quem está falando?

DOUTOR ALZINO – eu.

DOUTOR ALZINO – quem é o senhor?

DOUTOR ALZINO – doutor Alzino.

DOUTOR ALZINO – de onde o senhor é?

DOUTOR ALZINO – da capital.

DOUTOR ALZINO – e o que o senhor deseja?

DOUTOR ALZINO (1º secretário) – não liga, presidente, ele quer tumultuar.

DOUTOR ALZINO (correligionário) – é só a garantia legal, doutor Alzino. Saber se foi feita a contagem dos presentes.

DOUTOR ALZINO (presidente) – claro, doutor Alzino, foi o primeiro cuidado nosso, estamos há muito tempo nisso, somos velhos nessa coisa. O senhor está satisfeito?

DOUTOR ALZINO (correligionário) – sim, senhor.

DOUTOR ALZINO (presidente) – podemos prosseguir, senhor tesoureiro? Senhor secretário?

DOUTOR ALZINO (tesoureiro e secretário) – claro, doutor Alzino, com todo prazer...

Serra, sexta-feira, 11 de maio de 2012.