PageMaker

 

Fazedor de Páginas.

Era conhecido pelo mesmo nome do programa, mas o sentido era muito outro, completamente distinto.

Ele fazia páginas, páginas muito especiais do passado.

Seu nome era tão protegido que qualquer um que se aproximasse era morto sem dó nem piedade, sem remorso, sem qualquer piscada, sem aviso, sem notícia, sem julgamento, sem nada mesmo. A polícia não investigava, total obliteração, apagamento completo.

PÁGINAS DO PASSADO

NAG HAMADI	MANUSCRITOS DO MAR MORTO

Depois de terem descoberto estas páginas, pessoas mal intencionadas decidiram pedir a ele falsos documentos verdadeiros finamente elaborados para parecer ter vindo mesmo do passado. Evidentemente eram “acidentalmente” encontrados por algum popular nas áreas dos antigos impérios egípcio, sumeriano, etíope e outros; indefectivelmente falavam dos desafetos dos contratantes, sempre os denegrindo, por exemplo, aos cristãos e a Cristo ou aos muçulmanos e a Maomé ou a este ou aquele.

Supostos documentos comprometedores.

Muito bem imaginados, muito bem plantados.

MECANISMOS DE FALSIFICAÇÃO

Por exemplo, você pegava a família de Jesus (ou de Napoleão, de César, de Buda ou de quem fosse) e descobria tumbas de um, de dois, de três (muito mais fáceis de conseguir na mesma faixa temporal), juntando-as todas no mesmo lugar, na mesma caverna, no mesmo buraco no solo.

Para tais falsificações pesquisadores formidáveis estão disponíveis hoje nas universidades americanas, européias e israelenses, conhecendo mais das línguas mortas que os seus falantes antigos.

Tudo podia ser falsificado, mas ninguém era tão bom quanto o PageMaker. Ele enganava até os especialistas, PORQUE ERA o melhor de todos eles, “falecido” anos atrás, década e meia. Cobrava uma fortuna, até para os que sabiam avaliar o que era dinheiro, porque muito estava em jogo, a credibilidade de uma Fé ou a confiança nacional ou isso e aquilo. Ódios profundos moviam os que o contratavam.

Serra, sexta-feira, 27 de abril de 2012.

Os Solitários

 

Fico pensando naquela gente que passa sozinha enquanto nós estamos em grupo aqui. Claro que há a vantagem, para eles, de não haver ninguém cutucando, mas há a solidão.

Ficar assim, sem uma pessoazinha do lado, deve ser penoso.

É difícil pensar numa vida isolada dessas.

Se bem que sei de gente daqui, dos que vivem rodeados de outros, que prefeririam estar apartados, segmentados como se fosse únicos. Solitários. Solitários. Solitários.

Vê-los assim, longe de todos, causa uma certa angústia. É bom para eles ou não teriam tomado essa atitude, a pessoa só vai onde quer, pelo menos a maioria e em nossos dias.

Procuram preencher o vazio ouvindo rádio ou ficam olhando para o tempo. Uns até carregam minúsculas TV para quando são obrigados a parar.

Nós, os grupais, obviamente (o próprio nome o diz) vivemos em grupo, que é por vezes mal-humorado, por vezes briguento, por vezes insolente, mas traz calor humano.

São personalidades distintas, sem dúvida alguma, as deles e as nossas. Uns não conseguem viver com ninguém próximo, outros não podem dispensar a proximidade.

Eles, andando assim sozinhos, não podem conversar, claro que não; em compensação, se nem sempre conversamos, por vezes entabulamos papos muito bons, há até gente rindo e contado casos, outro dia ouvi uma mentirada que fazia muitos gargalhar. E por natureza há os palhaços que ficam contando piadas, o povo quase rebenta de tanto rir, se dobra de rir. Se eu tivesse memória para contar tudo que já ouvi no nosso grupo... Ou tivesse me lembrado de carregar gravador ou, já no tempo do celular, o tivesse acionado! Que perda de tempo, ó Jesus!

Do lado de lá, falar com quem, se estão sempre sós?

No máximo vão dois, às vezes três, muito raro, o mais das vezes passa um só. Quando vão dois ou três pouco falam, fico observando, só resmungam, por vezes brigam e até se agridem. Eu, hem?

Andar de ônibus é ruim em certos dias, mas tem seu lado bom.

Serra, sexta-feira, 20 de abril de 2012.

Poder Como Sintoma do Mal-Estar

 

Como quase todos, sempre pensei que as evidenciações (ofertas internas, oferecidas pelas PESSOAS: indivíduos, famílias, grupos e empresas) e super-evidenciações (demandas externas, puxadas pelos AMBIENTES: cidades-municípios, estados, nações e mundo), se não eram exatamente coisas boas pelo menos tornavam alegres aqueles para os quais o orgulho é significativo.

Depois fui vendo progressivamente, raciocinando com muita dificuldade (tamanha é a força das mensagens dominantes) que não, o orgulho assalta aqueles que são frágeis, os fracos e dependentes de adesão exterior, sendo o modo preferencial de domínio pelas formas transitivas da política-ideologia (Escravismo, Feudalismo, Capitalismo, Socialismo e até Comunismo e Anarquismo). Orgulho não é esplendor senão para os de fora, na realidade é capitulação vergonhosa, medo, pavor, pânico. Quer dizer, buscam o escudo do orgulho os dependentes, os com complexo de inferioridade, aqueles emocional ou mentalmente anêmicos.

EVIDENCIAÇÃO E SUPEREVIDENCIAÇÃO PELO ORGULHO

SINTOMA	FAÇA SUA COLETA
Beleza.
Fama/glória/prestígio.
Poder.
Riqueza.

Em particular, aqui olharemos o poder. Ele não traz bem-estar, como os outros modos de evidenciar não passa de armadilha.

Na chamada Teoria dos Ciclos coloquei com desenhos de máquina de escrever, esquadro, caneta. Os dois ciclos senoidal e cossenoidal devem ser vistos fundidos, aqui não sei fazer. O período é de 30 anos, desce 15 e sobe 15.

BEM-ESTAR.	Começa no máximo no útero e quinze anos depois está no fundo do poço, o adolescente se sente péssimo.
PODER.	No nascimento a criança está maximamente dependente, aos 15 tem um assomo de auto importância e autoafirmação, aos 30 depara com a coletividade, aos 45 anos está cheio de si (e pronto a capotar).

Se o indivíduo tem poder, não deveria estar feliz? Pelo contrário, está infeliz e procura substitutos (dois são exteriores, da forma: beleza e fama; dois são internos, do conteúdo: poder e riqueza).

Então, as apresentações do orgulho são sintomas do mal-estar e da fraqueza, acometem os débeis, os complexados (prato cheio para os psicólogos).

Vitória, terça-feira, 13 de setembro de 2016.

GAVA.

Os Homens de Pedro

 

Pedro era pedreiro, Pedro pedreiro, Chico até fez música pra ele.

PEDRO PEDREIRO

Pedro Pedreiro Chico Buarque   Pedro pedreiro penseiro esperando o trem Manhã parece, carece de esperar também Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém Pedro pedreiro fica assim pensando Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás Esperando, esperando, esperando Esperando o sol, esperando o trem Esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem Pedro pedreiro penseiro esperando o trem Manhã parece, carece de esperar também Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém Pedro pedreiro espera o carnaval E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês Esperando, esperando, esperando, esperando o sol Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem Esperando a festa, esperando a sorte E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também Pedro pedreiro penseiro esperando o trem Manhã parece, carece de esperar também Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém Pedro pedreiro tá esperando a morte Ou esperando o dia de voltar pro Norte Pedro não sabe mas talvez no fundo Espere alguma coisa mais linda que o mundo Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá O desespero de esperar demais Pedro pedreiro quer voltar atrás Quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar Esperando, esperando, esperando Esperando o sol, esperando o trem Esperando aumento para o mês que vem Esperando um filho prá esperar também Esperando a festa, esperando a sorte Esperando a morte, esperando o Norte Esperando o dia de esperar ninguém Esperando enfim, nada mais além Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem Pedro pedreiro pedreiro esperando Pedro pedreiro pedreiro esperando Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem Que já vem Que já vem Que já vem Que já vem Que já vem Que já vem

OS AJUDANTES DE PEDRO (a lista deve ser bem maior em termos de especializações atuais)

TIPO	FAZER O QUÊ?
Arquiteto	Não faz o teto alto, é o responsável pelas formas do edifício, das casas.
Engenheiro	Não engenha no sentido pleno da palavra, faz inúmeros cálculos de sustentação da construção, da circulação e disponibilidade de energia (chamado “projeto elétrico”), de circulação das águas e esgotos (apelidado “projeto hidráulico”) e vários outros.
Gesseiro	Não faz gesso, coloca, emassa, prepara a superfície para ficar finíssima, pronta para receber a tinta.
Ladrilheiro	Instalador de ladrilhos, função muito delicada, exige cuidado extremo.
Maceiro	Faz massa, hoje muito técnica.
Pedreiro	Não faz pedra, assenta tijolos e faz um monte de tarefas.

O arquiteto e o engenheiro não são auxiliares no sentido de subordinados, mas naquele de aprontarem os desenhos que sustentam a forma e o conteúdo finais.

Os homens de Pedro são altamente tarimbados, muito competentes. Quando você vê o edifício pronto não sabe os segredos escondidos ali. Quem mora nele não pensa nos homens de Pedro, nem agradece.

Nem ao empresário e à logística de trazer milhares, dezenas de milhares, até centenas de milhares de peças e juntá-las na ordem e na proporção certa para quando você abrir a torneira jorrar água, quando esta jorrar escorrer pelos canos sem tropeços, quando as tomadas forem ligadas fluírem os elétrons na corrente correta, quando acender a luz ficar iluminado na proporção esperada e assim por diante.

Ninguém liga.

Não fazem uma festa, não colocam uma placa, não instalam uma estátua “ao pedreiro desconhecido”.

É assim.

Os homens de Pedro continuam fazendo sua obra sem que ninguém sequer perceba.

Serra, sexta-feira, 27 de abril de 2012.

Orgulharia

 

Na sequência das antigas pastelarias (preparação de pastéis), padaria (preparação de pães), sapataria (conserto de sapatos), caldeiraria (preparação de caldeiras), tabacaria (venda de tabaco), pizzaria (venda de pizzas) e das recentes revistaria (venda de revistas) e outras, esse quis entrar no ramo do orgulho e começou a vendê-lo na orgulharia.

Vendo que tantos brasileiros eram orgulhosos sem qualquer razão para isso. Que, bastando ter um carro, qualquer feliz empregado com mais de mil reais de salário por mês conseguia; ou ter uma casa; ou ter um título universitário – ele achou que se daria bem demais, embora Jesus tenha dado no Sermão da Montanha os motivos para se afastar de todo mal.

O SERMÃO DA MONTANHA

Wikipédia As Bem-aventuranças As Bem-aventuranças [2] são o anúncio da verdadeira felicidade, porque proclamam a verdadeira e plena libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino de Deus através da palavra e acção de Jesus, que tornam a justiça divina, presente no mundo.

Embora se dissessem cristãos ou budistas ou maometanos ou isso ou aquilo as pessoas não obedeciam aos ditames religiosos, pelo contrário, primavam pelo oportunismo, a superafirmação do oportuno (daquilo que é aproveitamento “no ato”, ato de esperteza) em toda oportunidade.

Ele vendia orgulho, mas ninguém queria comprar, porque todos tinham de sobra. Em quase nenhuma casa havia falta de orgulho, da alta-satisfação consigo mesmo, da auto-elevação, da auto-projeção. Quase ninguém estava privado de altanaria, de muita altivez, de empáfia, de fatuidade, de soberba, de arrogância. Quase qualquer um era duque ou duquesa, até os garis e as manicures.

Quase ninguém gostava da simplicidade e da pureza de espírito, poucos tinham dignidade, todos estavam enraivecidos. O mundo ia de mal a pior e de pio a péssimo a passos largos, de corredor.

Evidentemente a firma dele afundou.

Serra, quarta-feira, 09 de maio de 2012.

Onde Moram os Monstros?

 

Assisti ao filme, nem terminei.

Contudo, ele me fez raciocinar e fazer esta pergunta.

Onde moram os monstros?

Como no caso dos racistas, ninguém é racista, mas sempre conhece alguém que é; ninguém é sexista; ninguém é territorialista; ninguém é nacionalista e assim por diante. Ninguém é monstro, são sempre os outros.

Onde moram os monstros?

Qual é o endereço deles?

É o seu, é o meu.

MONSTRUOSIDADES

·         Atender mal a clientela;

·         Bater nas mulheres, nas crianças, nos velhos;

·         Defender causa própria aumentando os salários;

·         Desconfiar das pessoas;

·         Descumprir as leis;

·         Desejar seu mal;

·         Desviar merenda destinada às escolas;

·         Desviar verbas;

·         Divulgar boatos e fofocas;

·         Espancar os animais;

·         Fornecer material de segunda ou de terceira por dinheiro de primeira;

·         Macular crianças;

·         Parar em fila dupla e atrapalhar o trânsito ou parar em lugares proibidos;

·         Quebrar propriedade pública;

·         Realizar negociatas para instalação de serviços públicos;

·         Trair a nação;

·         Vender por bagatela as empresas nacionais;

·         Inumeráveis outras.

Se pudéssemos ver as pessoas como são por dentro!

Que sustos passaríamos!

Como disse Caetano, “de perto ninguém é normal”.

Se Jesus com sua pureza voltasse para julgar os seres humanos quem escaparia, quem iria para o Céu?

Inquietante pergunta.

Serra, quarta-feira, 25 de abril de 2012.

O Reverso da Mortalha

 

O povo brasileiro é mal-agradecido.

Por mais que os políticos, as elites, os governantes, as autoridades façam por ele, ele não só não agradece como critica.

QUER VER SÓ?

ABORDAGEM NEGATIVISTA E DESTRUTITA	ABORDAGEM POSITIVA E CONSTRUTIVISTA
Roubos da Georgina, do Lalau, do PC Farias, do PT.	Alguns heróis se oferecem para promover desvios e evitar a gastança governamental em obras improdutivas.
Clima de impunidade geral depois da ascensão dos governos civis em 1985.	O fundamental experimento da liberdade levado às últimas conseqüências, denotando democracia brasileira bem fundada.
Enorme quantidade de balas perdidas, significando frouxidão do controle pelos comandantes e bandidagem à solta.	Poucos civis morrem no confronto policiais versus meliantes quando, inevitavelmente, a flutuação estatística leva à dispersão dos projeteis.
Despreparo da defesa civil contribui para os danos causados pelas enchentes e enxurradas.	O povo é levado pelo governo a participar ativamente da luta pela sobrevivência darwinista.
No ES, de 78 prefeituras investigadas apenas uma não foi considerada inidônea pelo Tribunal e Contas.	UMA prefeitura se coloca contra a massa, visando humilhar a maioria e escorchá-la perante a opinião pública.
Apesar das sucessivas leis contra o consumo de bebidas, seguindo-se direção centenas de milhares continuam morrendo em batidas, sacrificando as famílias, os amigos, as empresas.	O excesso de população está sendo combatido firmemente, de um lado pelo favor governamental e de outro lado pelo gosto brasileiro por dirigir perigosamente.
A sonegação passa de 60 % em todo o país e embora venham sendo oferecidas denúncias há mais de 30 anos sobre isso, nenhuma providência é tomada.	Os governos brasileiros dão ajuda de custo aos sofridos empresários (e isso sem que o povo contribuinte saiba), com lista enorme de “favores fiscais” (constituindo-se transferências legítimas e legais, chamadas “vergonhosas” por esses revolucionários de meia-tigela).

A lista é muito grande, não sei aonde essa gente quer chegar ofendendo aos legítimos aproveitadores brasileiros do esforço alheio. Tem de ser muito “cara de pau” - vão trabalhar seus vagabundos. Gente ordinária que deseja acima de tudo subverter, tornar a legítima roubalheira motivo de aversão do povo.

Faça o favor!

Serra, sexta-feira, 04 de maio de 2012.