Comumbeira e Pembescola

 

A Comumbeira (Comunidade Macumbeira), depois daquele fracasso de fazer serviço para fora, embora perdoada pelo juiz na dívida de 84 mil, percebeu que as cidades são amplamente desconhecedoras e desatentas em relação à magia e decidiu colocar uma escola de macumbas e pembas, a Pembescola.

PEMBA (no Houaiss eletrônico)

Substantivo feminino 1      Rubrica: umbanda. Regionalismo: Brasil. Bastão grosso, cônico, de giz colorido misturado com cola, com que se riscam os pontos ('conjunto de sinais mágicos') que identificam cada entidade, segundo um código de cores 2     Regionalismo: Angola. Espécie de argila us. pelo curandeiro para riscar ou marcar o que pretende proteger dos maus espíritos 3     Regionalismo: Angola. Ação de feiticeiro ou curandeiro 4     Regionalismo: Brasil. Uso: informal ou tabuísmo. o pênis

Deu mais errado ainda, pelas razões que vou expor.

Os alunos não tinham sido longamente treinados pela motivação popular, que no Brasil não era predominantemente africana, nem de longe; aqui havia uma mistura de índios com brancos com negros com asiáticos, sem falar nos sem mistura, e uma interpenetração incrível de culturas vindas de todas as partes do mundo, inclusive incipientemente muçulmanos, judeus, budistas e religiões de toda parte.

Os alunos não passavam pela alfabetização mágica.

Mal tinham adquirido as tinturas já saíam por aí praticando com os amigos (e os inimigos presumidos) e era um tal de gente emagrecer demais, sardas aparecerem, espinhas repelentes surgirem nas partes mais esquisitas do corpo, menstruação fora de hora, ganhar na loteria cinco vezes por semana, coisa horrorosa.

Garotada sem disciplina, vosmece vai me perdoar de falar assim.

Ninguém respeitava os pais de santos e as mães de santo, os irmãos de santo, os sobrinhos de santo, os cunhados de santo.

Pneu de ônibus que atrasava furava sem mais nem menos, quando o motorista ia ver consertava sozinho (eram os que queriam chegar na hora). Balança de açougue só pesava a favor do comprador. Coqueiros davam mamão, pintos encolhiam, os peitos de mocinhas caíam, desesperador.

Teve o vizinho de um garoto encrenqueiro que a árvore cresceu com as raízes para cima e era preciso cavar para pegar os frutos. A mexeriqueira dava mexericas apimentadas. A cana de açúcar já vinha com cana, cachaça, de modo que se você visse criança chupando cana já sabia que ia ficar doidona. Cola tenaz? Nem pensar em deixar usar, as crianças iam cheirar.

A criançada não pedia mais dinheiro aos pais, mas os donos dos bailões só aceitavam cartão, porque se aceitassem dinheiro virava papel.

Enfim, o jeito foi acabar com a escola.

Serra, quarta-feira, o9 de maio de 2012.

Começaria Tudo Outra Vez...

 

O brasileiro tinha ficado com mão torta, dobradinha em ângulo reto, parecia de goiola, por acaso encontrou a lâmpada mágica, esfregou-a e de dentro surgiu um gênio português.

Tomou um susto.

Onde já se viu gênio português?

Onde já se viu gênio com nacionalidade?

Por princípio não se afirma o local de nascimento do gênio, ele é atemporal, apenas existe, só tem nome ou prenome.

O GÊNIO PORTUGUÊS

GÊNIO – amo, você tem direito a três desejos. BRASILEIRO (pensando com muito cuidado) – quero ficar com minha mão igual à outra. O gênio fez as duas ficarem tortas, em ângulo reto com os braços. BRASILEIRO (que gênio burro!) – quero que meu pau arraste no chão. O gênio cortou as duas pernas dele rente à virilha. BRASILEIRO (puta merda, que otário. Vou ver se conserto tudo) – gostaria que tudo voltasse a ser como no princípio. Aí estourou o big bang.

***

Este texto é investigação sobre o suicídio, que é pecado, que faz voltar a pessoa ao princípio.

Pois outro brasileiro, esperto também, querendo viver sem trabalhar começou a pensar que se suicidar e sair do jogo era uma boa, se levasse à reencarnação, pois ele morreria e voltaria como criança, sendo cuidado por outros até a adolescência, então se mataria de novo e assim por diante reencarnando o tempo todo e vivendo para sempre sem trabalhar.

Ficou se hipnotizando diante do espelho para lembrar na idade certa, finalzinho da adolescência, agora já passava dos 45 anos e tinha trabalhado pra danar, ô xente, que existênciazinha ruim por demais. Treinou muito tempo, muito tempo, não fosse esquecer na adolescência, tinha que antecipar 30 anos.

Até que achou ter chegado ao ponto certo e se matou, jogando-se do edifício e se espatifando lá embaixo.

De fato, renasceu e viveu até os 15 sem trabalhar.

Não contava com o esquecimento forçado.

Renasceu como cachorro e tentava o tempo todo se lembrar de alguma coisa, tinha algo que incomodava...

Serra, quarta-feira, 02 de maio de 2012.

Colcha de Atalhos

 

A MÚSICA É MÉTRICA, É MESTRE

Diariamente Cantada por Marisa Monte, Autoria de Nando Reis.   Para calar a boca: rícino Pra lavar a roupa: omo Para viagem longa: jato Para difíceis contas: calculadora Para o pneu na lona: jacaré Para a pantalona: nesga Para pular a onda: litoral Para lápis ter ponta: apontador Para o Pará e o Amazonas: látex Para parar na Pamplona: Assis Para trazer à tona: homem-rã Para a melhor azeitona: Ibéria Para o presente da noiva: marzipã Para Adidas: o Conga nacional Para o outono, a folha: exclusão Para embaixo da sombra: guarda-sol Para todas as coisas: dicionário Para que fiquem prontas: paciência Para dormir a fronha: madrigal Para brincar na gangorra: dois Para fazer uma touca: bobs Para beber uma coca: drops Para ferver uma sopa: graus Para a luz lá na roça: duzentos e vinte volts Para vigias em ronda: café Para limpar a lousa: apagador Para o beijo da moça: paladar Para uma voz muito rouca: hortelã Para a cor roxa: ataúde Para a galocha: Verlon Para ser "mother": melancia Para abrir a rosa: temporada Para aumentar a vitrola: sábado Para a cama de mola: hóspede Para trancar bem a porta: cadeado Para que serve a calota: Volkswagen Para quem não acorda: balde Para a letra torta: pauta Para parecer mais nova: Avon Para os dias de prova: amnésia Para estourar pipoca: barulho Para quem se afoga: isopor Para levar na escola: condução Para os dias de folga: namorado Para o automóvel que capota: guincho Para fechar uma aposta: paraninfo Para quem se comporta: brinde Para a mulher que aborta: repouso Para saber a resposta: vide-o-verso Para escolher a compota: Jundiaí Para a menina que engorda: hipofagin Para a comida das orcas: krill Para o telefone que toca Para a água lá na poça Para a mesa que vai ser posta Para você, o que você gosta: Diariamente.

Desde os macetes dos cursinhos pré-vestibulares até as mais elevadas posições, sempre há caminhos curtos e caminhos longos para chegar lá.

Esse site especializou-se nisso: descobrir caminhos mais curtos para tudo. Foi fuçando. Como ser atendido na Secretaria da Receita ainda em vida? Como comprar certos temperos só disponíveis em Londres? Como descobrir um bombeiro em final de semana? Neste caso, disse Woody Allen: “não só Deus não existe como tente encontrar um bombeiro em Manhattan”.

Ele compôs uma colcha, colcha de atalhos, de “cortas-caminho”.

Começou pequeno, cresceu, depois de anos vendeu a empresa por centenas de milhões de dólares, pois era muito visitado o site (o que significa ver propagandas).

As pessoas espontaneamente contavam suas histórias e diziam como tinham vencido as dificuldades, eram os testemunhos mesmo, as pessoas que tinham passado pelas dores em milhões de situações diferentes: as pessoas gostam de partilhar. Se você precisasse chegar ao presidente da República, ia lá. Se quisesse uma passagem aérea de última hora, ia ao sítio Atalhos.

Serra, sexta-feira, 27 de abril de 2012.

Clien/Tela

 

A firma de informática decidiu mirar a tela do cliente, não a tela do funcionário do supermercado porque a deste pouco importa, para ele basta uma linha declarando o que acaba de ser digitado – em caso de maior necessidade é que ele olhará a outra, bem maior.

TELAS DE CAIXAS DE SUPERMERCADOS (confusos e sem planejamento pró-clientela)

Quantos serviços podem ser prestados aos clientes?

É com base nas necessidades que são desenhados os objetos-reflexos, aqueles destinados a servir à solução dos problemas.

Faria sentido mostrar estatisticamente nas tiras de papel fornecidas como cupons qual foi a curva de consumo por comparação com a de preços normalizados, isto é, quando é melhor consumir tal ao qual produto? O supermercado pode fazer isso sem perder nada, porque seus ganhos se baseiam num percentual do valor ofertado, qualquer que seja. A sazonalidade significava.

Se a pessoa fosse inscrita como diabética ou com outras doenças, apontar os produtos com açúcar ou venenos para elas seria importantíssimo, alertando-se a elas em tela; bastaria um cadastro.

Enquanto o cliente espera, alternativas aos produtos adquiridos podem ser mostradas. E também pode ser perguntado qual dos mostrados (ou outros) ele adquiriria, caso os encontrasse ali?

O e-mail do supermercado para reclamações e sugestões poderia ser fornecido e as respostas obtidas em casa ou na tela.

Encomendas especiais poderiam ser feitas em tela sensível.

A firma começou a pensar nisso: COMO SE COLOCAR NO LUGAR DO CLIENTE E COMO OFERECER A ELE TELA AMISTOSA, verdadeiramente amiga? Ele poderia ver em casa os produtos ofertados?

Buscou no mundo e nada havia de semelhante.

Decidiu fazer por conta própria, o mercado seria o mundo inteiro, depois converteria para as línguas e as culturas, buscando associados lá.

Serra, quinta-feira, 10 de maio de 2012.

Academia, Liceu, Pórtico e Jardim

 

Em Cachoeiro de Itapemirim existe um Liceu, o colégio dito científico de lá recebeu esse nome, certamente porque os espertos de lá, querendo parecer avançados gregos, puseram esse nome em homenagem a Aristóteles.

SUGAR, SUGAR, HONEY (doçura, querida – é o modo de derreter as lindezas de lá)

Domínio máximo com Alexandre.	Downtown, Atenas.
Jovens tardes de domingo.
MESTRE	ESCOLA
Platão. Greco de Atenas, 428/427-348/347 a.C.	Academia (reconstrução). Platonismo.
Aristóteles. Grego de Estagira, 384-322 a.C.	Liceu. Aristotelismo.
Epicuro. Grego de Samos, 341-270 a.C.	Jardim.     Epicurismo.
Zenão de Cítio. Grego de Cítio, 333-263 a.C.	Pórtico.     Estoicismo.

Cada uma dessas escolas-universidades durou séculos, tipicamente 600 ou 700 anos, muito mais que as de agora, exceto as europeias e as árabes, que as imitavam.

Mesmo passados 2,4 mil anos continuam nos influenciando.

O LICEU DE CACHOEIRO

Não mereceríamos todos que as escolas gregas (inclusive a primeira delas, a primeira universidade do mundo, a Escola Pitagórica) fossem estudadas, colocadas em livro, explicitadas? Se vamos globalizar não devemos buscar os esforçados heróis de cada povo?

Vitória, domingo, 11 de setembro de 2016.

GAVA.

Cidade Saúde

 

Guarapari, ES, a cidade-saúde.

Nos planaltos de Laranjeiras, na Serra, ES, um grupo de médicos empreendedores decidiu criar uma Cidade Saúde no terreno bem grande de um deles, uma antiga fazenda. Terrenos tornaram-se valorizadíssimos no ES, de forma que não vender já era investimento visando muito mais.

Eram médicos leais à população, mas também eram empreendedores. Não estavam interessados em lucrar desbragadamente.

Contrataram empresa de urbanização, lotearam e ficaram esperando. Por si mesmos pegaram dinheiro no BNDES nacional e no BANDES estadual para fazer sua própria clínica, um grande hospital com muitos atendimentos.

A ideia era oferecer TODO TIPO de atendimento de primeiro mundo, com todos os aparelhos de primeira linha, pois o ES estava prosperando aceleradamente, passando na década de 2000 de 40 a 80 bilhões de reais em poucos anos, este valor mais de 45 bilhões de dólares. O ES certamente produzia mais que 120 dos 190 países do mundo, mesmo sem contar a renda invisível de 60 %, quando iria a mais de 110 bilhões.

Eles exigiam ver para aprovar ou não os projetos de arquitetura.

O objetivo era dar condições de recuperação e bem-estar aos doentes. A pessoa entrava na “área urbana”, na delimitação artificial do loteamento e tinha certeza de recuperar-se de tudo que fosse humanamente curável. Destinavam 75 % aos lucros visando a expansão e 25 % ao atendimento gratuito do SUS, em condições muito melhores. Arranjaram para colocar uma faculdade de medicina, a que logo agregaram odontologia, farmácia, biologia.

Entrevistavam os médicos para sondar a verdadeira intenção deles, descartando os interessados somente em enriquecimento. Realizavam palestras mostrando a dimensão social. Contrataram administradores dedicados, advogados para proteção contra os picaretas e oportunistas dos “erros médicos”, economistas ad hoc, contadores confiáveis.

O PROJETO QUE FOI FEITO

Iam a conferências, palestras, convenções e demonstrações de máquinas, aparelhos, programas à procura do que de melhor houvesse no mundo.

A fama se espalhou pelo estado e pelo país, vinha gente de todo lugar, especialmente os ricos e médio-altos, que pagavam pelos outros.

Lagos, muita grama, muitas flores, estacionamentos amplos, linhas de ônibus, farmácias, lojas voltadas para a saúde - tornou-se um mundo em si mesmo.

Serra, terça-feira, 08 de maio de 2012.

Armadias

 

Por síncope, aglutinação e amálgama os brasileiros criam essas palavras extraordinárias, os mineiros são craques nisso.

MINEIRANDO

Armadias seria contração para armadilhas, armadilhas do dia.

Cada dia traz as suas, na soma 50/50 vamos para cima e para baixo.

ANGU-LAR (você mora nas senóides ou cossenóides, e na curva do sino – isso controla nossas vidas)

Ladecima.

O círculo do mundo se abre assim.

Ladebaixo.

Se a vida é sonho, como disse Calderón de La Barca, o palco desse sonho nos apresenta soluções e problemas, problemassoluções diárias.

Você pensa que é esperto para escapar, que nada! Todos nós tropeçamos, todos nós caímos de cabeça, todos nós sentamos a cara no muro e no murro. Domingo é mais calmo, mas não é isento, se existir amanhã será segunda, novos problemas e soluções emergirão, agora mesmo alguém está preparando armadilhas para os dias de outrem.

O que você pode dizer sobre alguém com 70 anos é que essa pessoa passou por 25,5 mil armadias.

Vitória, domingo, 11 de setembro de 2016.

GAVA.