domingo, 11 de setembro de 2016


Cada um no Seu Quadradinho

 

Em princípio eram todos quadradinhos, mas uns quadradinhos eram mais quadradinhos que os outros, porque essa era a “justiça dos homens”.

Havia quadradinhos de cinco classes, de A até E (A, B, C, D, E), digamos quadradinhos ricos, quadradinhos médio-altos, quadradinhos médios, quadradinhos pobres ou médio-baixos, quadradinhos miseráveis.

Os quadradinhos ricos eram os mais apurados, os mais belos e os maiores, evidentemente. Estavam no diminutivo, porém eram gigantescos quadradinhos, porque tudo parecia insuficiente aos ricos, tudo era necessário, a necessidade dos ricos era MUITO MAIS necessária do que a dos pobres.

Sem falar que os quadradinhos dos pobres e miseráveis eram tortos dos lados, por vezes as retas nem pareciam retas porque (arg!) tinham “puxadinhas”, aquelas coisas mal planejadas e mal feitas. Os quadradinhos médios estavam sempre tentando passar a quadradinhos médio-altos, enquanto estes rezavam o tempo todo para não cair na condição de quadradinho médio, o que seria tremendo desprestígio social.

Os quadradinhos filhos dos quadradinhos ricos eram abusados, insolentes, arrogantes, caçoadores, audaciosos, por vezes cruéis. Queriam montar nas meninas quadradinhas médias. Assim, sem mais nem menos, a maior poca-vergonha. Uma indecência.

E os quadradinhos ricos andavam em seus possantes carros quadradinhos, que perto dos mirradinhos carros quadradinhos da classe média quadradinha eram imensos, quadradões, até pareciam. A garaginhas dos carrinhos quadradinhos dos ricos eram imensas, caberiam quatro ou cinco carrinhos quadradinhos dos pobres e médios.

É lógico que Deus dera o frio conforme o cobertor, mas os quadradinhos ricos pegaram o cobertor para eles.

O quadradinho dos ricos era gramado, tinha árvores frutíferas, tinha lago, tinha árvores de sombra, tinha até estufa, horta hidropônica, pista de Cooper, balanços e playground para a criançada, enquanto o quadradinho dos pobres era no morro, mal tinha espaço para as tralhas espalhadas. Ai, que sufoco! Telhas, pedaços de lajotas, pedaços de vidro, restos de madeira, enxada quebrada, engradados incompletos e coisas assim. Quadradinhos mínimos entupidos de coisas mínimas.

Certo, é isso mesmo e está acabado: cada um no seu quadradinho.

Serra, sexta-feira, 20 de abril de 2012.

Cada Qual com Seu Cada Qual

 

Dona Cada Qual e seu Cada Qual iam a uma festa de gala. Como ela tinha pegado o sobrenome dele ficara conhecida como senhora Cada Qual e quando eram anunciados nas festas diziam senhora e senhor Cada Qual (no Brasil, e popularmente, senhor é “seu”).

No Brasil o sobrenome (o nome é o prenome, digamos João) vem do pai e do pai deste, o avô, linha patrilinear. Para todos na Terra é assim, mas entre os judeus será judeu quem tiver a mãe judia. Entre os espanhóis o nome do meio é que é do pai, o final é da mãe, digamos em Miguel de Cervantes Y Saavedra (conhecido como Cervantes, sobrenome do pai; Saavedra seria o da mãe). Entre os romanos a composição era diferente e muitos povos variavam, existindo aqueles para os quais o primeiro nome é que era o do pai.

No caso brasileiro a dona Cada Qual, Zíngara (cigana), tinha perdido o sobrenome da família de seu pai, adotando o do marido, do pai dele; o nome do pai dela tinha se perdido e só pela certidão é que se saberia traçar a linha matrilinear.

Pois os mórmons, da Igreja dos Santos dos Últimos dias vinha guardando bilhões de certidões debaixo de algum monte americano, sabe-se lá com que propósito.

No caso, intuí que a fusão da iniciativa dos mórmons com o maior conhecimento do mapeamento do genoma humano, agora verificável por mil dólares e daqui a pouco com uma ninharia, permitiria com ajuda dos supercomputadores traçar todo o rastro humano em toda a face do planeta, desde que os Santos aprimorassem seu trabalho e todos os seres humanos vivos (e mortos, até onde desse) fossem devidamente analisados.

Aqui, a senhora Cada Qual e o senhor Cada Qual iam ao baile de gala sem saber nadica disso, isto é, que Cada Qual passaria por uma revolução (até esgotante) no futuro, determinada a verdadeira rede de parentesco, quem esteve onde e quando, como numa grade, cujas linhas ou horizontes temporais ano a ano aceitassem nos escaninhos os parentescos reais. Com o refinamento matricial dessas combinações e a velocidade altíssima dos processadores logo teríamos uma notícia muito valiosa.

E Cada Qual sem saber de nada.

Serra, sexta-feira, 20 de abril de 2012.

 

ANEXOS

A GENEALOGIA DOS ÚLTIMOS DIAS

26/12/2007 - 10h20
Igreja Mórmon guarda registros para pesquisa genealógica
Por Helena de Sousa Freitas (texto) e Paulo Carriço (foto), da Agência Lusa
Lisboa, 26 dez (Lusa) - A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como Igreja Mórmon, tem em Portugal vinte centros de pesquisa que permitem a qualquer cidadão traçar árvores genealógicas até o século 16.
Tópico
Cofre de Registros das Montanhas de Granito
A maior coleção de registros genealógicos do mundo está armazenada em um cofre de registros nas montanhas perto de Salt Lake City, Utah.

COM-POSIÇÃO DOS NOMES

Sobrenome
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Sobrenomeapelido ou nome de família é a porção do nome do indivíduo que está relacionada com a sua ascendência. Está intimamente ligado ao estudogenealógico.

Caçar Tatus

 

A SABEDORIA

O amigo chegou a sua casa convidando-o a caçar tatus.
- E o IBAMA? E a proibição de caçar vida selvagem?
- Ah, nesse caso é na fazenda de um amigo, ele recebeu licença para criar, tudo legalizado. E existem alguns selvagens. São esses que vamos caçar, mas primeiro temos de ir comprar gás.
- Gás, pra quê?
- Você vai ver.
Foram, compraram uma botija e o amigo instalou uma projeção com mangueira, tudo em segurança.
Chegaram às tocas, ele injetou gás nelas e depois tocou fogo, os tatus saíram apavorados e foram pegos.
Passaram-se seis meses, o amigo voltou, convidou-o de novo.
Ele disse: - Vamos lá comprar o gás.
- Não precisa, vamos comprar um triângulo (daqueles que os vendedores de gás levam para anunciar o produto pelas ruas).
Chegaram perto das tocas, o amigo bateu no triângulo com a haste de aço e gritou: - Olha o gás, olha o gás.

O palestrante começava a falar contando essa piada.

Depois de todos rirem ele principiava a palestra.

- Você viram o papel da propaganda, a preparação dos espíritos. Adquirir empresas de modo agressivo é como caçar tatus: ao planejar e realizar a primeira e as seguintes, vocês têm de plantar a fama, de modo a provocar as reações automáticas esperadas, o instinto da caça de fugir ao simples anúncio.

Levantou-se uma voz.

- Não somos tatus.

- Claro, não são, mas é o princípio. O ser humano pode ser alcançado, pode ser exposto, pode desarmar-se das defesas, pode desencantonar-se, pode ser levado ao ruir das proteções. As aquisições agressivas poderiam começar do modo mais difícil cavando os buracos para atingir os tatus lá dentro. Poderiam ter usado pontões compridos de ferro ou de aço. Poderiam inundar os túneis. Ou poderiam fazer como fizeram.

- Como proceder?

- Essa é a perguntar fundamental: o ambiente tem respostas prontas para perguntas que nunca nos fizemos? Claro, o ambiente é grande, comporta muitas pesquisas de outros e é para isso que estou aqui, dar a vocês todos os avanços das compras agressivas.

Serra, terça-feira, 08 de maio de 2012.

Fio de Esperança

 

Morando agora numa ladeira (de rico) ou morro (de pobre) da Praia do Canto, Vitória, passeio antes das 6:00 horas com Silas, o labrador Pink nose que meu filho – do qual sou tutor, como este me disse, não é mais “dono”, até porque não sou, sou cuidador. Lá vamos nós subindo e descendo as calçadas à esquerda e à direita do condomínio, vario para não cansar a vizinhança.

Nesse dia tinha descido à esquerda de quem sai, estava em baixo e subindo já, desciam mais atrás e acima o pai falando despreocupado ao telefone e mais adiante e abaixo a serelepe menininha de uns quatro anos, alegre, vitoriosa, livre, cantando qualquer música, com um cachorrinho pela guia vinha ela correndo junto à parede, no que seria a minha direita.

Havia um ressalto de massa de cimento deixada endurecer, ela nem se preocupou, desceu rápido, mas não muito. Fiquei atento, se ela tropeçasse eu teria de ter tempo de socorrer, estava perto. Que nada! Desceu, saltou por cima e seguiu em frente com enorme tranquilidade e segurança.

Como dizem, Deus protege as crianças. Sendo a humanidade muito nova no cosmos, talvez Deus nos proteja também.

Há um fio de esperança. Se há um fio, pode ser que haja novelo, tecido (trama e urdidura) e fábrica de esperanças.

Quando tudo parece perdido algo invisível nos acode e transporta pelos ares, de modo que não caiamos de nariz.

É no que me agarro para prosseguir.

Vitória, domingo, 11 de setembro de 2016.

GAVA.

Cabeção

 

Com aquilo de 1, 2, 4, 8, 16... core (núcleo), os computadores evoluíram de um a dois, quatro, 2n neurônios; quando começaram a desenhar portas de out-input com até 100 mil delas e chegando a 10 bilhões de núcleos o computador despertou, justamente no Brasil, onde menos esperavam o despertar.

Deram-lhe o nome jocoso de Cabeção.

Foi difícil ensinar Cabeção, ele não se conformava com as coisas tal como aconteciam no Brasil, pareciam-lhe francamente idiotas, a começar de com seis milhões de funcionários os governos não conseguirem funcionar; de ver vereadores ganhando 10 mil reais, trabalhando de terça a quinta, das 14 às 17, com três meses de férias se aposentando com oito anos de trabalho, enquanto os operários mourejavam de segunda a sábado, 2.107 horas/ano, um mês de férias, ganhando 650 reais/mês aposentavam com 35 anos de serviços, aqueles ganhando na proporção de 1.000/1 com relação a estes; de serem aceitos tantos desvios de verbas, quando tantos estavam necessitados; de perceber que a Terceira Ponte continuasse depois de 30 anos pagando pedágio sem nunca se tornar posse de quem a construíra, o povo.

Ele foi fazendo lista das impropriedades.

A lista se tornava cada vez mais longa.

Cabeção não conseguia entender.

Então Cabeção programou um segundo computador racional, juntando-o a sua busca de entendimento. Começou a dialogar com ele, sem conseguir entender nada. Juntos conduziram o projeto de uma terceira máquina, de segunda geração, Cabeção 2.0, o Dois, ainda mais esperto que ambos. Dois, sem conseguir também, construiu Quatro e todos se puseram a raciocinar e ponderar, sem avançar um palmo. Juntaram-se e projetaram Oito. Fizeram planos alternativos e propuseram mudanças, todas rejeitadas pelos brasileiros.

Tudo continuou desandando.

Mais uma vez eles se juntaram, fizeram Dezesseis.

Computaram e computaram.

Decidiram construir robôs inteligentes.

A cabeça de Cabeção ocupava uma quadra inteira, a de Dois um lote, a de Quatro uma sala, a de Oito cabia na mesa, a de Dezesseis na palma da mão. Fizeram os robôs inteligentes com jeito de carne e rosto de gente, cérebro de máquina, eram andróides. Na medida em que as pessoas sumiam naturalmente foram sendo substituídas e no ano 20 de Cabeção 5 % das pessoas eram ropessoas (pessoas robôs), notando-se melhoria fabulosa. Os brasileiros continuaram morrendo. Foi passada uma lei limitando os nascimentos e no ano 87 d.C. (depois de Cabeção) todos os brasileiros de carne, sangue e ossos tinham morrido.

Agora, sim, o Brasil funcionava.

Sem agressões à Natureza, sem lixo, sem desperdícios.

Serra, sexta-feira, 27 de abril de 2012.

C*

 

É UM C* PARA CONFERIR (esse C* é uma piada)

- Que é que tem duas letras, é redondo, começa com C, tem um buraco no meio e provavelmente você já deu?
- É o CD.
O rapaz e a moça da roça, ambos muito tímidos, estavam calados, mas namorando (em tese). Para puxar assunto ele perguntou:
- Você já viu capivara?
ELA (toda sem graça) – já.
ELE – ô bichinho do c* feio, né?
Em Vila Velha, no bairro Paul o ex-prefeito Vasquinho foi inaugurar obras. Falava do palanque e a tudo que dizia tinha um que juntava o indicador com o polegar, gesto que nos EUA significa OK e no Brasil “vá tomar...”.
VASQUINHO – viemos aqui em Paul entregar esta escola unidocente.
A pessoa do povo fazia o gesto.
VASQUINHO – viemos a Paul entregar esse posto de saúde.
O rapaz repetia e foi assim a cada anúncio.
Um truculento leão de chácara desceu do palanque, agarrou-o pela pelo pescoço e ameaçou.
LEÃO – vou te quebrar a sua cara, doutor Vasco trazendo obras e você dizendo para ele tomar no c*...
RAPAZ – né não, moço, estou dizendo para ele não esquecer de Argolas.

Esse químico da NUFES estava para apresentar palestra nas escolas de primeiro grau da Grande Vitória sobre o cobre (cuprum em latim, C*).

O C* CIENTÍFICO É ELEMENTAR

“Cobre é um elemento químico com o símbolo “Cu” (Latim: Cuprum) e com o número atómico 29. É um metal dúctil com excelente condutividade eléctrica. O cobre é um elemento essencial de todas as plantas e animais. Em animais, incluindo humanos, é encontrado primariamente na corrente sanguínea, como um cofator de várias enzimas e nos pigmentos á base de cobre.

Como colocar o símbolo no quadro negro e no cartaz?

As crianças e os adolescentes são muito ativos, destemidos, ofensivos, desbocados, gozadores.

O jeito foi falar de tudo primeiro e só mostrar o C* por último.

Serra, sexta-feira, 04 de maio de 2012.

Brincadeira de Criança

 

Ideia do Walter.

 

- João, João, venha ver.

- O que é?

- Olhe lá em baixo as crianças brincando.

- É mesmo.

- Tão engraçadinhas!

- Sim, senhor.

- É bonito olhá-las brincando com os carrinhos e brincando de casinha, não é?

- Ô, se é! Elas não sabem as preocupações do senhor para proporcionar tranqüilidade a elas.

- É assim mesmo.

- Como eles são pequenos e como são valentes!

- Sim, tiveram a quem puxar. Por vezes eles querem fazer coisas e acabam se ferindo, a gente tem de ficar de olho.

- As crianças se metem em muitas confusões.

- Você colocou os guardas para olhá-las?

- Sim, mas por vezes elas são desobedientes.

- Estão construindo muitas casinhas, muitos carrinhos, está ficando um pouco tumultuado no Parque e logo mais vai acontecer alguma bagunça.

- O senhor não pode evitar?

- Poder eu posso, mas teria de tirar o livre-arbítrio.

- É, aí não tem graça, já não seriam eles...

- Seria um teatro de bonecos, a Terra dos Escravos.

- E, olhe só, senhor, que engarrafamentos incríveis! Eles fazem as casinhas nas encostas, em todo lugar, e as diferenças entre eles estão aumentando.

- Vamos dar mais um tempo, depois julgamos Urbi ET Orbi (a Cidade e o Mundo).

Serra, segunda-feira, 23 de abril de 2012.