quinta-feira, 14 de setembro de 2017


O Derretimento do Norte em W]

 

                            Quando todo o Norte acima do Paralelo 45º começou a derreter com o fim da Glaciação de Wisconsin (W) há 10 mil anos atrás como foi que isso se deu? Fala-se de derretimento, mas não se como ele aconteceu.

                            Dizem que as chuvas duraram mil anos.

                            Como já vimos, as águas subiram 160 metros e as praias continentais entraram muito nas bordas.

                            Mas, o que significava ESTAR LÁ?

                            Antes era seco e frio, de repente começou a esquentar. O solo, que ficava permanentemente gelado e coberto de neve começou a aparecer; onde antes só havia o branco da neve começou a surgir o verde da grama e das árvores, surpreendentes FLORES, vida buliçosa. Claro, haviam as estações, no inverno de antes ficava ainda mais frio, no inverno-novo menos frio, mais quente. E, sobretudo, no verão talvez nem fosse mais necessário usar capotes pesados. Podiam – é de pasmar! - tomar banho nos lagos e rios. Os avós e os avós dos avós deixavam memórias dos tempos antigos intoleráveis, das regiões intransitáveis. Os jovens sentiam o calor na pele e o ânimo no coração, tudo recendia a novos perfumes, tudo exalava cheiros. Daquele mundo geladíssimo d’antanho nada falava mais.

                            Pelas porções degeladas podia-se ver manchas verdes cada vez maiores, cada vez mais largas e compridas, a floresta verde chegava para tomar tudo – devia ser surpreendente demais, absolutamente fantástico e inebriante.

                            Talvez aquele Norte todo significasse 30 milhões e km2 na Eurásia e na América do Norte e de repente foi ficando mais ou menos como é hoje.

COMPARAR A ESQUERDA COM A DIREITA (Groenlândia de hoje com Suécia de hoje no verão)


Eles devem ter ficado extasiados. Só em termos de notícias, porque mil anos são mais de 30 gerações humanas, ninguém pode mesmo acompanhar.

A neve derretia continuamente e debaixo dela surgia um miraculoso mundo novo, assombroso demais, em que a vida regurgitava, transbordava, fervia, borbulhava, esparramava-se. As pessoas podiam ter muito mais filhos, crescer sem limites, expandir-se sempre (isso criou problemas no futuro, porque os “brancos” – amarelos, brancos, indígenas – tornaram-se prolíficos em excesso), porque sempre havia espaço novo, novos campos de caça. Deve ter sido um impulso inacreditável para a dilatação dos horizontes humanos.

DERRETIMENTO DE NEVE NA PRIMAVERA

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Assim, sem mais nem menos, o mundo ancestral no qual os antigos cro-magnons tinham vivido por 70 ou 60 mil anos principiou a mudar aceleradamente. O que era para durar para sempre e permitir crescimento muito lento das populações humanas, do nada vibrava e dilatava as margens. Uma lama danada, um lamaçal horrível transitar que nunca tinham visto, mesmo se no inverno seguinte gelava tudo de novo (embora num patamar de temperatura mais elevada), mas deve ter sido completamente alucinante, uma alegria que talvez nunca venhamos a conhecer.

Porque literalmente um mundo novinho em folha ia surgindo diante dos olhos estarrecidos daqueles ancestrais. Não foi só alegria, foi uma dura prova, mas também foi algo que nunca mais se repetiu. Nós pensamos ter tudo, mas isso está longe da verdade. Aquele certamente foi um dos momentos mais belos de toda a geo-história hominídea, sobre os quais muitas lendas devem ter sido contadas (basta procurar).
Vitória, segunda-feira, 11 de abril de 2005.

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