quarta-feira, 13 de setembro de 2017


Na Interface Entre Semi-Novo e Semi-Velho

 

                            Os vendedores de veículos usados usam vários artifícios para empurrar os carros aos potenciais compradores desde falar, como num filme, de segundo proprietário até dizer “semi-novo”, de que a contraparte seria “semi-velho”. Para haver semi-novo tem de haver semi-velho. As duas palavras seriam distintas e para serem distintas deveriam ter entre si uma interface, que não há. Semi-novo é o mesmo semi-velho, portanto dizer semi-novo é impróprio.

                            O que é algo meio-novo?

                            Ou é novo ou não é. Novo é o que está saindo da fabricação, velho é tudo que está quase no fim. Quase-novo talvez fosse apropriado, porque refere que está bem perto de ser novo, foi inaugurado há pouco tempo. Ninguém diz que um homem maduro é semi-novo ou semi-velho. É maduro.

                            Novo é o que não foi usado.

                            Semi-novo seria o quê?

                            Aparelho novo de telefone todo mundo sabe o que é, é o que não saiu da caixa, não foi usado. Quase novo seria um de pouco uso. Semi-novo seria o quê? Até para vender é preciso um pouco de correção, é preciso honestidade de propósitos, representada pela língua. Está certo que o capitalismo é uma pirataria só, mas até nele deve-se ter alguma decência. Deveriam estabelecer parâmetros: novo, quase novo, usado, muito usado e assim por diante.

                            De fato, seria interessante escrever um livro contando desses artifícios linguísticos dos vendedores capitalistas.
                            Vitória, sábado, 09 de abril de 2005.

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