segunda-feira, 10 de julho de 2017


Solucionadores de Problemas

 

                            Já vimos que os conjuntos que não resolvem problemas não chegam ao futuro. De problemas de alimentação (amplíssimo conceito, tanto material quanto ideal, tanto de objetos quanto de conceitos), a de reobtenção do estado de saúde ou equilíbrio e a todos as outras dificuldades. Entrementes, há os “solucionadores”, como chamou Gabriel quando lhe disse que eu tinha sido chamado toda a vida a ser escravo dessas contínuas postulações de serviços de solucionamento. Porque juntam à nossa volta uma quantidade enorme de problemas pequenos e grandes a resolver, como em Hellraiser as cordinhas puxando o corpo-alma.

                            No pior sentido, mesmo, o de ter capitulado à condição de super-herói da meninada, mesmo se a meninada tem 50 anos ou mais e coloca todo gênero de problema (alguns seriam grandes e muito interessantes, como o UTF, Último Teorema de Format, já resolvido, ou as várias conjecturas). A pessoa, cativada tanto pela chance de resolver algo difícil quanto pela capitulação dos que as apresentam (pois não conseguiram resolver), fica aprisionada no âmbito daquele espaçotempo em que estão inseridas e de sua visão específica, bem como pela urgência dos postulantes. Como sempre vão surgir problemas aflitivos para tais ou quais classes do Ser geral, pode-se gastar toda uma vida nessas soluções e no orgulho que delas pode advir. Esquecendo-se a pessoa da visão mais geral que, inclusive, pode tornar insubsistentes muitos daqueles problemas apresentados, isto é, desnecessários de soluções. Eventualmente essa solução geral, própria da pessoa, pode canelar não apenas muitos problemas, mas CLASSES INTEIRAS deles, jogando as necessidades correlatas na lata de lixo.

                            Desse jeito, os agoniados e angustiantes (dado que cada problema resolvido suscita um outro, ou uma turma deles, descendentes da solução) solucionadores-de-problemas são, falando como o povo, “um pé no saco”, um aborrecimento muito agudo, porque estão sempre requisitando os aplausos (aliás, devidos, pagamento dos pedidos) por suas obras, os quais vem na forma de reconhecimento, de prêmios (Nobel e outros) e assim por diante.

                            É chatíssimo.

                            Tal gênero de participação não atrai.

                            Vitória, terça-feira, 03 de agosto de 2004.

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