O Susto da Morte de
Enoque
Quando Enoque morreu
foi um susto tremendo entre os atlantes, porque ninguém tinha presenciado esse
tipo de coisa. Era inimaginável, entre os descendentes. Claro que Adão e Eva
tinham visto Abel morrer, mas de Set para frente não tinha havido, todos viviam
nove séculos ou mais e ninguém tinha falecido antes. Abel morreu pelas mãos de
Caim quando os adâmicos descendentes ainda não tinham nascido.
Eles viam os sapiens
de vida curtíssima, até 35 ou 40 anos, e os humanos de vida apenas um pouco
mais longa, até os 120 anos, morrerem a todo instante, mas nunca um celestial.
Então, quando “Deus o levou”, quer dizer, quando a doença o dobrou isso
provocou pânico, lá por 770 da EA, Era Adâmica, iniciada no ano em que Adão
pousou na Terra.
Evidentemente os
augustos ficaram estarrecidos, abatidíssimos, pois embora soubessem que iam
morrer ninguém conta mesmo com a morte até que ela ocorra; e muito menos eles,
tão longevos, vivendo tanto que até se esqueciam do que era o fim, a morte, o término
de uma pessoa. Os que morriam eram aquela lá”, a ralé, os outros, os
inferiores, os filhos da Natureza e os mestiços, não os filhos de Deus. Eles se
julgavam imortais. Então, quando a morte bateu na porta pela primeira vez, foi
um assombro mesmo, um golpe brutal do destino, um chamado de cortar o coração,
abatendo a todos, até a Adão e Eva, ainda mais que Enoque morreu em condições
deploráveis, leproso, caindo aos pedaços, estado lastimável, horrível.
Naquele dia toda a
alegria transparente e translúcida dos atlantes cessou subitamente com um só
golpe de Deus. Naquele instante toda a suposta imortalidade dos “deuses”
desabou e mostrou-se o que era, uma bolha de sabão soprada na tarde quente. Foi
aí que os descuidados adâmicos voltaram novamente os olhos para o Céu e caíram
em si, desabando de joelhos no chão, literal e metaforicamente. A festa tinha
acabado para sempre. E a Cidade Celestial nunca mais foi a mesma. Mas pior
ainda foi quando Adão e Eva morreram, golpe de graça no orgulho e na fantasia
dos tolos.
Vitória,
quinta-feira, 12 de agosto de 2004.
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