quarta-feira, 12 de julho de 2017


O Susto da Morte de Enoque

 

                            Quando Enoque morreu foi um susto tremendo entre os atlantes, porque ninguém tinha presenciado esse tipo de coisa. Era inimaginável, entre os descendentes. Claro que Adão e Eva tinham visto Abel morrer, mas de Set para frente não tinha havido, todos viviam nove séculos ou mais e ninguém tinha falecido antes. Abel morreu pelas mãos de Caim quando os adâmicos descendentes ainda não tinham nascido.

                            Eles viam os sapiens de vida curtíssima, até 35 ou 40 anos, e os humanos de vida apenas um pouco mais longa, até os 120 anos, morrerem a todo instante, mas nunca um celestial. Então, quando “Deus o levou”, quer dizer, quando a doença o dobrou isso provocou pânico, lá por 770 da EA, Era Adâmica, iniciada no ano em que Adão pousou na Terra.

                            Evidentemente os augustos ficaram estarrecidos, abatidíssimos, pois embora soubessem que iam morrer ninguém conta mesmo com a morte até que ela ocorra; e muito menos eles, tão longevos, vivendo tanto que até se esqueciam do que era o fim, a morte, o término de uma pessoa. Os que morriam eram aquela lá”, a ralé, os outros, os inferiores, os filhos da Natureza e os mestiços, não os filhos de Deus. Eles se julgavam imortais. Então, quando a morte bateu na porta pela primeira vez, foi um assombro mesmo, um golpe brutal do destino, um chamado de cortar o coração, abatendo a todos, até a Adão e Eva, ainda mais que Enoque morreu em condições deploráveis, leproso, caindo aos pedaços, estado lastimável, horrível.

                            Naquele dia toda a alegria transparente e translúcida dos atlantes cessou subitamente com um só golpe de Deus. Naquele instante toda a suposta imortalidade dos “deuses” desabou e mostrou-se o que era, uma bolha de sabão soprada na tarde quente. Foi aí que os descuidados adâmicos voltaram novamente os olhos para o Céu e caíram em si, desabando de joelhos no chão, literal e metaforicamente. A festa tinha acabado para sempre. E a Cidade Celestial nunca mais foi a mesma. Mas pior ainda foi quando Adão e Eva morreram, golpe de graça no orgulho e na fantasia dos tolos.
                            Vitória, quinta-feira, 12 de agosto de 2004.

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