Insanidade Matemática
Em seu livro, Uma Breve História do Infinito (Dos
Paradoxos de Zenão ao Universo Quântico), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p.
20, Richard Morris diz:
“Um ex-professor de Cantor, o
matemático alemão Leopold Kronecker, foi especialmente crítico em relação a seu
trabalho. Tachou as idéias de Cantor de ‘matematicamente insanas’ e, mais
tarde, impediu que o ex-aluno obtivesse um cargo na Universidade de Berlim.
Outro matemático ainda mais eminente, o francês Henri Poincaré, definiu a
teoria matemática da infinidade de Cantor como algo que as gerações futuras
iriam ver ‘como uma doença de que se curou’.
“Essas investidas
tiveram um lamentável efeito emocional sobre Cantor. Sendo já um tanto
paranóico, ele começou a imaginar conspirações. Recusou-se a ter qualquer
ligação com a única revista de matemática que acolhera bem o seu trabalho,
acreditando que seu editor estava envolvido num conluio contra ele. Na
primavera de 1884, sofreu um colapso nervoso. Depois de recuperado, afastou-se do
trabalho matemático e passou a publicar ensaios em revistas filosóficas.
Durante a parte final de sua vida, Cantor sofreu depressões severas e vários
colapsos mentais. Acabou sendo dispensado de suas funções de professor na
Universidade de Halle e veio a falecer num hospital psiquiátrico em 1918”.
A Matemática não
está livre de gente ruim, pois os matemáticos, embora às vezes não pareça, são
seres humanos. Depois de ter sofrido nas mãos de Kronecker (Matemático alemão.
Notável por suas contribuições à teoria das equações algébricas e funções
elípticas. 1823-1891. Barsa Consultoria Editorial Ltda.) e de Poincaré (1854 a
1912. Matemático e filósofo francês. Antecipou alguns dos
resultados obtidos por Einstein na teoria da relatividade), Cantor (1845 a 1918. Matemático
alemão. Criador da teoria dos conjuntos e da matemática transfinita) não foi menos cruel. Diz Morris, p.
83: “É de imaginar que Cantor, se pudesse ver o que estava sendo feito, não o
aprovaria. A despeito de toda a sua preocupação com o infinito, ele não teria o
menor interesse pelo infinitamente pequeno. Quando um outro matemático propôs o
uso dos números transfinitos de Cantor na elaboração de um sistema que incluía
quantidades infinitamente pequenas, Cantor acusou-o de tentar infectar a matemática
com os ‘bacilos da cólera dos infinitésimos’”.
Depois de ter sido
maltratado pelos dois, por sua vez Cantor não se conteve e maltratou outro.
Somos humanos e não só falíveis como muito pequenos.
Vitória,
quinta-feira, 12 de agosto de 2004.
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