quarta-feira, 12 de julho de 2017


Insanidade Matemática

 

                            Em seu livro, Uma Breve História do Infinito (Dos Paradoxos de Zenão ao Universo Quântico), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p. 20, Richard Morris diz:

“Um ex-professor de Cantor, o matemático alemão Leopold Kronecker, foi especialmente crítico em relação a seu trabalho. Tachou as idéias de Cantor de ‘matematicamente insanas’ e, mais tarde, impediu que o ex-aluno obtivesse um cargo na Universidade de Berlim. Outro matemático ainda mais eminente, o francês Henri Poincaré, definiu a teoria matemática da infinidade de Cantor como algo que as gerações futuras iriam ver ‘como uma doença de que se curou’.

                            “Essas investidas tiveram um lamentável efeito emocional sobre Cantor. Sendo já um tanto paranóico, ele começou a imaginar conspirações. Recusou-se a ter qualquer ligação com a única revista de matemática que acolhera bem o seu trabalho, acreditando que seu editor estava envolvido num conluio contra ele. Na primavera de 1884, sofreu um colapso nervoso. Depois de recuperado, afastou-se do trabalho matemático e passou a publicar ensaios em revistas filosóficas. Durante a parte final de sua vida, Cantor sofreu depressões severas e vários colapsos mentais. Acabou sendo dispensado de suas funções de professor na Universidade de Halle e veio a falecer num hospital psiquiátrico em 1918”.

                            A Matemática não está livre de gente ruim, pois os matemáticos, embora às vezes não pareça, são seres humanos. Depois de ter sofrido nas mãos de Kronecker (Matemático alemão. Notável por suas contribuições à teoria das equações algébricas e funções elípticas. 1823-1891. Barsa Consultoria Editorial Ltda.) e de Poincaré (1854 a 1912. Matemático e filósofo francês. Antecipou alguns dos resultados obtidos por Einstein na teoria da relatividade), Cantor (1845 a 1918. Matemático alemão. Criador da teoria dos conjuntos e da matemática transfinita) não foi menos cruel. Diz Morris, p. 83: “É de imaginar que Cantor, se pudesse ver o que estava sendo feito, não o aprovaria. A despeito de toda a sua preocupação com o infinito, ele não teria o menor interesse pelo infinitamente pequeno. Quando um outro matemático propôs o uso dos números transfinitos de Cantor na elaboração de um sistema que incluía quantidades infinitamente pequenas, Cantor acusou-o de tentar infectar a matemática com os ‘bacilos da cólera dos infinitésimos’”.

                            Depois de ter sido maltratado pelos dois, por sua vez Cantor não se conteve e maltratou outro. Somos humanos e não só falíveis como muito pequenos.

                            Vitória, quinta-feira, 12 de agosto de 2004.

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