segunda-feira, 15 de maio de 2017


Mimetismo Racional

 

                            A gente vê na TV certos convidados falando de tal ou qual profissão e assunto com tanta empolgação e certeza que dá para confundir, é como se eles estivessem tendo as idéias ali, na hora e no minuto mesmo, e não fosse coisa requentada; é como eu pensava no início. Depois comecei a reparar que esses pseudo-raciocínios são semelhantes ou iguais aos verdadeiros que são encontrados nos livros, de modo que podemos falar mesmo de um tipo de gente que imita a racionalidade, mas com uma perfeição tão grande que quem não conheça é enganado ou até têm prazer em se deixar enganar.

                            Aquelas mulheres da educação imitando Piaget é qualquer coisa de tocar o coração! E certos psicanalistas, com argumentos requentados de Freud, de Jung (inclusive o “inconsciente coletivo” transmutado em “memória genética”, sem qualquer explicação, deixando-se ficar no ar como se fosse uma fruta verdadeira a colher e saborear), de Lacan, de Reich, de quem quer que seja, apresentando-se na TV dando lições a torto e a direito com tanta falsa-dignidade que é mesmo fenomenal! Quem vê assim não pode acreditar que ali não haja um grama de raciocínio autêntico, de transbordamento da taça, de audácia, de arremetimento rumo ao desconhecido, que seja tudo repetição, mudando o que deve ser mudado apenas plágio, alteração de pequenas porções, como é sugerido jocosamente no livro de Peter Gammond, Rio de Janeiro, Ediouro, 1993 (sobre original inglês), Manual do Blefador (tudo que você precisa saber sobre música para nunca passar vergonha).

                            Onde eles aprendem isso? Nas universidades, é claro, porque desde cedo o modelo apontou que a soma zero é 50/50, soma de pares polares opostos/complementares, inclusive esse dos criadores e dos não-criadores, dos blefadores, dos miméticos. Eles aprendem isso, mas a pergunta fundamental é POR QUÊ a Natureza habilitou metade para ser assim e especialmente 1/40 ou 2,5 % para blefar sempre, para mimetizar em qualquer condição? Por quê isso tem valor de sobrevivência? E quão longe isso foi ao longo de milênios? Que apuros os miméticos conseguiram em suas investigações? Como você sabe, o que Frank Herbert chamou em sua série Duna “dançarinos faciais” aos artistas da representação, que também são miméticos, só que formais, de superfície, enquanto estes de que estou falando são-no de conceitos, de estruturas – eles fingem saber sobre as profundidades das coisas e não sabem nada. Se qualquer verdadeiro conhecedor ou um filósofo os indagasse, desabariam.

                            Vitória, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário