Mimetismo Racional
A gente vê na TV
certos convidados falando de tal ou qual profissão e assunto com tanta
empolgação e certeza que dá para confundir, é como se eles estivessem tendo as
idéias ali, na hora e no minuto mesmo, e não fosse coisa requentada; é como eu
pensava no início. Depois comecei a reparar que esses pseudo-raciocínios são
semelhantes ou iguais aos verdadeiros que são encontrados nos livros, de modo
que podemos falar mesmo de um tipo de gente que imita a racionalidade, mas com
uma perfeição tão grande que quem não conheça é enganado ou até têm prazer em
se deixar enganar.
Aquelas mulheres da
educação imitando Piaget é qualquer coisa de tocar o coração! E certos
psicanalistas, com argumentos requentados de Freud, de Jung (inclusive o
“inconsciente coletivo” transmutado em “memória genética”, sem qualquer
explicação, deixando-se ficar no ar como se fosse uma fruta verdadeira a colher
e saborear), de Lacan, de Reich, de quem quer que seja, apresentando-se na TV
dando lições a torto e a direito com tanta falsa-dignidade que é mesmo
fenomenal! Quem vê assim não pode acreditar que ali não haja um grama de
raciocínio autêntico, de transbordamento da taça, de audácia, de arremetimento
rumo ao desconhecido, que seja tudo repetição, mudando o que deve ser mudado
apenas plágio, alteração de pequenas porções, como é sugerido jocosamente no
livro de Peter Gammond, Rio de Janeiro, Ediouro, 1993 (sobre original inglês), Manual do Blefador (tudo que você
precisa saber sobre música para nunca passar vergonha).
Onde eles aprendem
isso? Nas universidades, é claro, porque desde cedo o modelo apontou que a soma
zero é 50/50, soma de pares polares opostos/complementares, inclusive esse dos
criadores e dos não-criadores, dos blefadores, dos miméticos. Eles aprendem
isso, mas a pergunta fundamental é POR QUÊ a Natureza habilitou metade para ser
assim e especialmente 1/40 ou 2,5 % para blefar sempre, para mimetizar em
qualquer condição? Por quê isso tem valor de sobrevivência? E quão longe isso
foi ao longo de milênios? Que apuros os miméticos conseguiram em suas
investigações? Como você sabe, o que Frank Herbert chamou em sua série Duna “dançarinos faciais” aos artistas
da representação, que também são miméticos, só que formais, de superfície,
enquanto estes de que estou falando são-no de conceitos, de estruturas – eles
fingem saber sobre as profundidades das coisas e não sabem nada. Se qualquer
verdadeiro conhecedor ou um filósofo os indagasse, desabariam.
Vitória,
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004.
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