Cabeça-Balão
Gabriel diz e
concordo inteiramente com ele que a maioria das pessoas tem uma ligação
automática com as coisas, pouco refletindo, pouco indo além do mero sentimento
de urgência, da ligação instantânea com os objetos. Ou as pessoas de tudo não
pensam ou então pensam quase nada, ficam nas trivialidades, nas
superficialidades de trocar uma lâmpada, de comprar um sapato – nunca
investigam. É porisso que estão aí bilhões de livros, zilões de páginas de
Internet e é como se fosse tudo vazio. Não interessa a elas que hajam aí as
bibliotecas públicas ou cinco bilhões de sítios no Google ou jornais aos montes
ou filmes ou os produtos das artes ou 500 milhões ouvindo música em MP3 ou
centenas de revistas.
Gostam do Rádio e da
TV porque já vem debulhado. Se não existissem esses dois veículos também não
aconteceria nada, como não aconteceu através do tempo; não havia perigo, pois o
modelo identificou que não é o povo que vai fazer revoluções, são as elites, e
estas buscarão informação em qualquer lugar, independentemente de ela ser
oferecida ou não, mostrada ou ocultada. Eles riem quando o Faustão manda rir,
aplaudem as besteiras do Ratinho (que é muito violento), choram quando a placa
é mostrada. É assim. Não depende de a burguesia pagar milhões a esses cabras
para entorpecer o povo, este não liga, não se liga, não reflete. Algumas
palavras-chave ditas pelos revolucionários, sempre das elites, provocarão de
tempos em tempos, dentro dos ciclos próprios, os movimentos populares, desde
que haja convencimento, desde quando haja sinceridade na voz, e nada mais. Não
há qualquer poder revolucionário dentro das cabeças-balão, elas estão vazias,
não há relação nenhuma lá dentro, porque (o modelo mostrou isso bem cedo, mas
eu não vi, até que Gabriel falou) há sete níveis de existência (povo,
lideranças, profissionais, pesquisadores, estadistas, santos/sábios e
iluminados) e a menos que se fale a linguagem própria de cada um o movimento
deles não é disparado. Naturalmente só um iluminado consegue disparar todas as molas,
mas mesmo assim deve ir passando para baixo, para os santos/sábios e assim por
diante, descendo até o povo.
Vitória, domingo, 08
de fevereiro de 2004.
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