sexta-feira, 12 de maio de 2017


Cabeça-Balão

 

                            Gabriel diz e concordo inteiramente com ele que a maioria das pessoas tem uma ligação automática com as coisas, pouco refletindo, pouco indo além do mero sentimento de urgência, da ligação instantânea com os objetos. Ou as pessoas de tudo não pensam ou então pensam quase nada, ficam nas trivialidades, nas superficialidades de trocar uma lâmpada, de comprar um sapato – nunca investigam. É porisso que estão aí bilhões de livros, zilões de páginas de Internet e é como se fosse tudo vazio. Não interessa a elas que hajam aí as bibliotecas públicas ou cinco bilhões de sítios no Google ou jornais aos montes ou filmes ou os produtos das artes ou 500 milhões ouvindo música em MP3 ou centenas de revistas.

                            Gostam do Rádio e da TV porque já vem debulhado. Se não existissem esses dois veículos também não aconteceria nada, como não aconteceu através do tempo; não havia perigo, pois o modelo identificou que não é o povo que vai fazer revoluções, são as elites, e estas buscarão informação em qualquer lugar, independentemente de ela ser oferecida ou não, mostrada ou ocultada. Eles riem quando o Faustão manda rir, aplaudem as besteiras do Ratinho (que é muito violento), choram quando a placa é mostrada. É assim. Não depende de a burguesia pagar milhões a esses cabras para entorpecer o povo, este não liga, não se liga, não reflete. Algumas palavras-chave ditas pelos revolucionários, sempre das elites, provocarão de tempos em tempos, dentro dos ciclos próprios, os movimentos populares, desde que haja convencimento, desde quando haja sinceridade na voz, e nada mais. Não há qualquer poder revolucionário dentro das cabeças-balão, elas estão vazias, não há relação nenhuma lá dentro, porque (o modelo mostrou isso bem cedo, mas eu não vi, até que Gabriel falou) há sete níveis de existência (povo, lideranças, profissionais, pesquisadores, estadistas, santos/sábios e iluminados) e a menos que se fale a linguagem própria de cada um o movimento deles não é disparado. Naturalmente só um iluminado consegue disparar todas as molas, mas mesmo assim deve ir passando para baixo, para os santos/sábios e assim por diante, descendo até o povo.
                            Vitória, domingo, 08 de fevereiro de 2004.

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