As Emoções de Alex
Raymond
Tenho a edição
comemorativa dos 50 anos da primeira publicação no Brasil de Flash Gordon no Planeta Mongo, de Alex
Raymond (Alexander Gillespie Raymond, Nova Iorque, 1909 a 1956), feita em 1937 pela editora Brasil-América.
A data das primeiras
pranchas é de 1933, mas a publicação da primeira tira de Flash Gordon se deu em
7 de janeiro de 1934. O primeiro quadro da página um, falando da ameaça de um
cometa, mostra os negros dançando alucinados “em volta de seu deus”, o segundo
um “resignado árabe” se abaixando no deserto, o terceiro as massas aflitas e o
quarto o sábio doutor HANS Zarkov trabalhando dia e noite “na esperança de
salvar o mundo”. É Hans, nome alemão, é branco, é sábio, trabalha noite e dia
enquanto os outros se desesperam e rezam. Era 1933, os americanos sentiam
simpatia por Hitler (Adolf, ditador austríaco da Alemanha, 1889 a 1945) e os
alemães. Mais tarde, com a ascensão do nazismo e os terrores implantados por
ele, o doutor HANS passou a ser somente o PROFESSOR ZARKOV, nunca mais se
mencionando o Hans nem o “doctor”, muito duro. Tudo foi amaciado e
americanizado, democratizado para o novo paladar.
As tiras tem as
coisas mais risíveis (torpedos aéreos, raios elétricos, máquina diabólica de
desumanização, espaçógrafo, raios de acetileno, raios de gás, transmissor de
pensamento, hidrociclo, bateria de luzes magnéticas, fuzil de gelo,
eletrofoguete, espaçofone, eletrotortura – isso nem os torturadores brasileiros
patentearam -, fornalhas atômicas, poder das células de selênio, metralhadora
atômica, aerotorpedo, lanças flamejantes, aerocoche, radium flamejante,
armadura refratária de aço) sem falar em homens-leão, homens-pantera,
homens-peixe, homens-macaco, etc.
Mas nós não devemos
confundir, porque nada disso tira a beleza plástica dos desenhos,
acrescentando-se que ele participou ainda de Jim das Selvas, Agente
Secreto X-9 e, para mim, o mais importante e o único realmente
significativo e atraente, Nick Holmes
(em inglês Rip Kirby), o detetive-cientista, que poderia perfeitamente ser
revivido num filme-piloto e numa série de TV, pois eram estórias realmente
deliciosas.
As emoções de Alex
Raymond eram as autorizadas na sua época, as que vendiam; profundamente ele
podia ser outro, precisamos saber mais, o que nos diz que nunca devemos ver só
a superfície, nem ser críticos demais.
Vitória,
terça-feira, 03 de fevereiro de 2004.
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