terça-feira, 9 de maio de 2017


As Emoções de Alex Raymond

 

                            Tenho a edição comemorativa dos 50 anos da primeira publicação no Brasil de Flash Gordon no Planeta Mongo, de Alex Raymond (Alexander Gillespie Raymond, Nova Iorque, 1909 a 1956), feita em 1937 pela editora Brasil-América.

                            A data das primeiras pranchas é de 1933, mas a publicação da primeira tira de Flash Gordon se deu em 7 de janeiro de 1934. O primeiro quadro da página um, falando da ameaça de um cometa, mostra os negros dançando alucinados “em volta de seu deus”, o segundo um “resignado árabe” se abaixando no deserto, o terceiro as massas aflitas e o quarto o sábio doutor HANS Zarkov trabalhando dia e noite “na esperança de salvar o mundo”. É Hans, nome alemão, é branco, é sábio, trabalha noite e dia enquanto os outros se desesperam e rezam. Era 1933, os americanos sentiam simpatia por Hitler (Adolf, ditador austríaco da Alemanha, 1889 a 1945) e os alemães. Mais tarde, com a ascensão do nazismo e os terrores implantados por ele, o doutor HANS passou a ser somente o PROFESSOR ZARKOV, nunca mais se mencionando o Hans nem o “doctor”, muito duro. Tudo foi amaciado e americanizado, democratizado para o novo paladar.

                            As tiras tem as coisas mais risíveis (torpedos aéreos, raios elétricos, máquina diabólica de desumanização, espaçógrafo, raios de acetileno, raios de gás, transmissor de pensamento, hidrociclo, bateria de luzes magnéticas, fuzil de gelo, eletrofoguete, espaçofone, eletrotortura – isso nem os torturadores brasileiros patentearam -, fornalhas atômicas, poder das células de selênio, metralhadora atômica, aerotorpedo, lanças flamejantes, aerocoche, radium flamejante, armadura refratária de aço) sem falar em homens-leão, homens-pantera, homens-peixe, homens-macaco, etc.

                            Mas nós não devemos confundir, porque nada disso tira a beleza plástica dos desenhos, acrescentando-se que ele participou ainda de Jim das Selvas, Agente Secreto X-9 e, para mim, o mais importante e o único realmente significativo e atraente, Nick Holmes (em inglês Rip Kirby), o detetive-cientista, que poderia perfeitamente ser revivido num filme-piloto e numa série de TV, pois eram estórias realmente deliciosas.

                            As emoções de Alex Raymond eram as autorizadas na sua época, as que vendiam; profundamente ele podia ser outro, precisamos saber mais, o que nos diz que nunca devemos ver só a superfície, nem ser críticos demais.

                            Vitória, terça-feira, 03 de fevereiro de 2004.

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