A Chegada de Adão
Em O Ano Zero de Adão (Livro 63), na
coletânea Adão Sai de Casa,
imaginamos o olhar de Adão quando ele chegou do planeta Paraíso da estrela
Canopus para pousa na Terra - que é o olhar do ocupante. Mas como terá sido
para os primitivos de 5,75 mil anos passados assistir uma nave alienígena
chegar no céu da Terra e dela ver descerem os “deuses”?
Deve ter sido algo
de absolutamente espantoso.
As pessoas que ficam
pedindo a presença de discos voadores não fazem idéia de quão mais avançada
deveria ser uma tecnociência alien para vencer as distâncias interestelares não
em trezentos anos (a distância até Canopus seria, segundo um sítio da Internet,
323 anos-luz), mas em algumas horas, porque ninguém agüenta mais que cinco ou
seis delas em ambiente fechado, fora astronautas treinados, treinadíssimos, sendo
poucos em muitos milhares os que podem ficar confinados mais que isso. É um
poder terrivelmente maior do que o disponível para nós agora.
Então, para todos os
efeitos, eram deuses para aqueles antepassados distantes nossos, os que tiveram
a “sorte” de ficarem pasmados de terror diante de um Conhecimento (Magia/Arte,
Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) tão
disparatadamente mais adiantado (que o nosso, imagine que o deles!).
Olharam para cima
certo dia de sol (porque não iria estar chovendo em dia tão grandioso), um céu
de brigadeiro, e depararam com aquela coisa pairando no ar; deve ter sido
acachapante, esmagador mesmo, totalmente assombroso, mais do que qualquer
acontecimento desde então e talvez por todo o futuro, fora a abertura de pi.
Como retratar a estupefação deles? O filme, caso haja, deverá reproduzir essa
condição de estarrecimento total, de prostração absoluta diante do
incompreensível. Eles devem ter se jogado de cara no chão de puro terror, tão
fora do comum aquilo era, tão além de qualquer coisa, uma pedra imensa que não
se espatifa no chão, que desce lentamente, CONTRA A GRAVIDADE. Não deve ter
sido delicioso? Um instante único, gente muito avançada perto de gente muito
atrasada, um fosso gigantesco, impossível de ser preenchido por qualquer
raciocínio nosso. Mas o cinema pode fazer muita coisa para aproximar-nos ao
máximo (será preciso treinar os atores e atrizes por meses a fio até que compreendam
essa distância de vários milhares de anos, esses seis mil mais o que levaríamos
para chegar a tal máquina) daquela sensação de transe.
Vitória,
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004.
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