sábado, 13 de maio de 2017


A Chegada de Adão

 

                            Em O Ano Zero de Adão (Livro 63), na coletânea Adão Sai de Casa, imaginamos o olhar de Adão quando ele chegou do planeta Paraíso da estrela Canopus para pousa na Terra - que é o olhar do ocupante. Mas como terá sido para os primitivos de 5,75 mil anos passados assistir uma nave alienígena chegar no céu da Terra e dela ver descerem os “deuses”?

                            Deve ter sido algo de absolutamente espantoso.

                            As pessoas que ficam pedindo a presença de discos voadores não fazem idéia de quão mais avançada deveria ser uma tecnociência alien para vencer as distâncias interestelares não em trezentos anos (a distância até Canopus seria, segundo um sítio da Internet, 323 anos-luz), mas em algumas horas, porque ninguém agüenta mais que cinco ou seis delas em ambiente fechado, fora astronautas treinados, treinadíssimos, sendo poucos em muitos milhares os que podem ficar confinados mais que isso. É um poder terrivelmente maior do que o disponível para nós agora.

                            Então, para todos os efeitos, eram deuses para aqueles antepassados distantes nossos, os que tiveram a “sorte” de ficarem pasmados de terror diante de um Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) tão disparatadamente mais adiantado (que o nosso, imagine que o deles!).

                            Olharam para cima certo dia de sol (porque não iria estar chovendo em dia tão grandioso), um céu de brigadeiro, e depararam com aquela coisa pairando no ar; deve ter sido acachapante, esmagador mesmo, totalmente assombroso, mais do que qualquer acontecimento desde então e talvez por todo o futuro, fora a abertura de pi. Como retratar a estupefação deles? O filme, caso haja, deverá reproduzir essa condição de estarrecimento total, de prostração absoluta diante do incompreensível. Eles devem ter se jogado de cara no chão de puro terror, tão fora do comum aquilo era, tão além de qualquer coisa, uma pedra imensa que não se espatifa no chão, que desce lentamente, CONTRA A GRAVIDADE. Não deve ter sido delicioso? Um instante único, gente muito avançada perto de gente muito atrasada, um fosso gigantesco, impossível de ser preenchido por qualquer raciocínio nosso. Mas o cinema pode fazer muita coisa para aproximar-nos ao máximo (será preciso treinar os atores e atrizes por meses a fio até que compreendam essa distância de vários milhares de anos, esses seis mil mais o que levaríamos para chegar a tal máquina) daquela sensação de transe.
                            Vitória, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004.

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