Armando o Inimigo
Esse Leno veio conversando comigo no
ônibus, puxou assunto no Terminal de Jacaraípe.
- Está vendo aquele guarda lá?
Eu disse:
- Tô.
- Pois ele está armado, as pessoas
pensam que ele é incondicionalmente amigo, mas o fato é que é amigo agora,
hoje, nestas condições de produção e de organização, recebendo em dia,
controlado pelos comandantes-coronéis, alimentando-se direito, com família
equilibrada...
- Enfim, tudo em cima.
Ele não gostou da interrupção.
- Vai me deixar falar?
Botei o galho dentro.
- Vou.
- No caso de haver crise, de tudo
degringolar, já não seria a mesma coisa. Imagine um diagrama (ele desenhou
mentalmente para mim e replico abaixo).
DIA-A-DIAGRAMA
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Inimigo total
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Amigo total
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- Nada é somente sim, nada é
totalmente não. E há a transformação do sim em não, a negação da negação, o
salto dialético e as outras dimensões da dialética, disse ele.
Não entendi nada, mas como ele tinha
sido agressivo, fiquei caladinho, ele tinha o olhar enraivecido dos
revolucionários de antigamente, aqueles malucos de carteirinha de 30 ou 40 anos
atrás, aliás, parecia estar pra lá dos 70 anos de idade, antigo comunista.
Embora bem mais novo eu, eu não era a favor de violência, nem muito menos de
reagir e bater em velho. Fiquei firme, balançando a cabeça em assentimento. Não
convém contrariar os doidos e os chefes.
- Agora ele tem uma arma. Vai que
qualquer um desses controles falhe, o que aconteceria? De suposto amigo temos
um inimigo verdadeiro. E pense quantos milhares, centenas de milhares de
policiais civis, militares, gente das forças armadas, guardas municipais,
forças especiais, vigilantes estão armados neste país e, pior ainda, NESTE
estado.
Não é que eu concordava com ele?
Pelo menos em alguma coisa ele tinha
razão. Aquilo me deixou com uma pulga atrás da orelha, fui pro serviço e depois
pra casa e danei a pensar em todos aqueles policiais armados no Brasil.
Torci para nada dar errado.
Serra, quarta-feira, 27 de junho de
2012.


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